O extremo autocontrole sobre seu corpo, sobre si mesmo e também
sobre uma doença crônica, será mesmo, será que isso realmente existe? Como
diria o gringo louco “ISSO É UMA GOOD QUESTION?”, perdoem a brincadeira e o
fato de ter de repente promovido uma breve agressão ao vernáculo de duas
línguas ao mesmo tempo, mas achei que um pequeno exagero valeria a pena, só pra
descontrair um pouco. Mas voltando ao que realmente interessa, na condição de
diabético, fico intrigado quando penso na resposta dessa pergunta e confesso
que apesar de ser capaz de imaginar esse SER que com toda a certeza poderia servir
de exemplo pronto para essa hipotética situação, pois reúne as verdadeiras
condições para tal, como um peso corporal bastante controlado, com taxas nos
limites estabelecidos pela medicina, enfim com várias características que por
si só já denotam sua extrema capacidade de manter-se à margem dos exageros tão
sedutores e provocativos do mundo dos glutões por natureza. Entretanto essa
questão continua me incomodando bastante, pois expõe com detalhes a minha, e
provavelmente a de muitos outros indivíduos, incapacidade de adotar esse tipo
de comportamento, teoricamente tão benéfico para se atingir o tão desejado BEM
VIVER.
Por outro lado é também bastante salutar fazer um
questionamento sobre alguns aspectos desse controle tão exacerbado. O que dizer
do banimento do consumo de substâncias ditas proibidas, sem a hipótese de nenhuma
exceção, não importando a motivação a ser considerada, não permitindo nenhuma
exceção a regra; - Do exame minucioso das resenhas e descrições de produtos
industrializados nas gôndolas dos supermercados e afins; - Da privação do
normal e saudável convívio dos amigos nas rodas de bar e nos encontros de
finais de semana, para não cair nas tentações do comer e beber ; - Na procura
incessante por produtos naturais que tenham propriedades especiais, quase
mágicas; - Na expectativa do surgimento de novas técnicas e ou substâncias que
possam trazer uma nova luz a questão. Enfim de uma série de procedimentos tão
saudáveis e recomendáveis e ao mesmo tempo, que podem se tornar tão nocivos na
medida em que tem o potencial de provocar uma imensa frustração e um enorme
VAZIO.
Só para deixar bem claro este breve relato não é uma
crítica à postura de alguém, absolutamente não, e sim uma sincera manifestação
de admiração por uma pessoa (um paciente dito ideal) que demonstra uma
determinação e uma força de vontade fora do comum, muito rara mesmo, que com
certeza pode lhe render resultados tão expressivos nas suas BATALHAS diárias
contra as doenças que o afligem. Principalmente quando levamos em consideração
que ele tem, a por mim carinhosamente denominada, tríplice coroa (quero dizer é diabético, logo deve controlar o
açucar, tem problemas com a pressão arterial, logo deve controlar a ingestão de
sal e gorduras e por fim tem problemas renais, logo deve reduzir drasticamente
a ingestão de carnes vermelhas e outros itens expressamente proibidos pelos
manuais médicos).
O Resumo da Ópera é o seguinte: o personagem acima
mencionado é na verdade o resultado da minha percepção de como a sociedade
espera que um doente crônico, deve encarar sua enfermidade. E então me ocorre
as seguintes questões: Será mesmo possível que alguém leve uma vida tão
miseravelmente controlada assim? E depois se efetivamente isso for possível,
será que essa forma de VIVER verdadeiramente vale a pena? As respostas de cada
um de nós para tais perguntas são muito particulares e díspares, e estão
intimamente ligadas à história de vida e a carga que cada um traz consigo no transcorrer
de sua breve caminhada nesta efêmera existência.
Rodolfo S Cerveira
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