domingo, 22 de janeiro de 2017

O EXTREMO E EXACERBADO CONTROLE SOBRE O SEU CORPO



O extremo autocontrole sobre seu corpo, sobre si mesmo e também sobre uma doença crônica, será mesmo, será que isso realmente existe? Como diria o gringo louco “ISSO É UMA GOOD QUESTION?”, perdoem a brincadeira e o fato de ter de repente promovido uma breve agressão ao vernáculo de duas línguas ao mesmo tempo, mas achei que um pequeno exagero valeria a pena, só pra descontrair um pouco. Mas voltando ao que realmente interessa, na condição de diabético, fico intrigado quando penso na resposta dessa pergunta e confesso que apesar de ser capaz de imaginar esse SER que com toda a certeza poderia servir de exemplo pronto para essa hipotética situação, pois reúne as verdadeiras condições para tal, como um peso corporal bastante controlado, com taxas nos limites estabelecidos pela medicina, enfim com várias características que por si só já denotam sua extrema capacidade de manter-se à margem dos exageros tão sedutores e provocativos do mundo dos glutões por natureza. Entretanto essa questão continua me incomodando bastante, pois expõe com detalhes a minha, e provavelmente a de muitos outros indivíduos, incapacidade de adotar esse tipo de comportamento, teoricamente tão benéfico para se atingir o tão desejado BEM VIVER.

Por outro lado é também bastante salutar fazer um questionamento sobre alguns aspectos desse controle tão exacerbado. O que dizer do banimento do consumo de substâncias ditas proibidas, sem a hipótese de nenhuma exceção, não importando a motivação a ser considerada, não permitindo nenhuma exceção a regra; - Do exame minucioso das resenhas e descrições de produtos industrializados nas gôndolas dos supermercados e afins; - Da privação do normal e saudável convívio dos amigos nas rodas de bar e nos encontros de finais de semana, para não cair nas tentações do comer e beber ; - Na procura incessante por produtos naturais que tenham propriedades especiais, quase mágicas; - Na expectativa do surgimento de novas técnicas e ou substâncias que possam trazer uma nova luz a questão. Enfim de uma série de procedimentos tão saudáveis e recomendáveis e ao mesmo tempo, que podem se tornar tão nocivos na medida em que tem o potencial de provocar uma imensa frustração e um enorme VAZIO.
Só para deixar bem claro este breve relato não é uma crítica à postura de alguém, absolutamente não, e sim uma sincera manifestação de admiração por uma pessoa (um paciente dito ideal) que demonstra uma determinação e uma força de vontade fora do comum, muito rara mesmo, que com certeza pode lhe render resultados tão expressivos nas suas BATALHAS diárias contra as doenças que o afligem. Principalmente quando levamos em consideração que ele tem, a por mim carinhosamente denominada, tríplice coroa (quero dizer é diabético, logo deve controlar o açucar, tem problemas com a pressão arterial, logo deve controlar a ingestão de sal e gorduras e por fim tem problemas renais, logo deve reduzir drasticamente a ingestão de carnes vermelhas e outros itens expressamente proibidos pelos manuais médicos).

O Resumo da Ópera é o seguinte: o personagem acima mencionado é na verdade o resultado da minha percepção de como a sociedade espera que um doente crônico, deve encarar sua enfermidade. E então me ocorre as seguintes questões: Será mesmo possível que alguém leve uma vida tão miseravelmente controlada assim? E depois se efetivamente isso for possível, será que essa forma de VIVER verdadeiramente vale a pena? As respostas de cada um de nós para tais perguntas são muito particulares e díspares, e estão intimamente ligadas à história de vida e a carga que cada um traz consigo no transcorrer de sua breve caminhada nesta efêmera existência.


Rodolfo S Cerveira

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