Quando digo que um doente crônico está rigorosamente só no
universo de sua própria SOLIDÃO, pode parecer uma reles figura de linguagem,
mas de fato não é. Na verdade não estou me referindo a solidão espacial, de proximidade
corporal e até mesmo espiritual, afinal ele normalmente tem o amor e o apoio da
família e dos amigos, mas efetivamente de algo que só ele pode mensurar, pois
como diz o ditado “ninguém pode sentir a dor do outro”, logo ninguém pode saber
o que esse indivíduo sente, senão ele mesmo. Isso pode parecer loucura,
devaneio, mas rigorosamente não é. No momento em que você ocupa outro papel
neste “organograma humano”, ou seja, quando o doente está do outro lado, você
tende a se comportar como um observador voraz e sabedor pleno das verdades que
podem solucionar as questões mais emblemáticas da vida dele, e aqui faço um
parêntese (isso já aconteceu comigo, mesmo que inconscientemente). Agora quando
a moléstia de ambos é a mesma, então nesse caso o olhar do observador antes na
posição pragmática de um juiz, assume uma posição mais maleável, quase que
desnudada de pré-conceitos, de um possível companheiro de jornada, e nesse caso
a compreensão mútua poderá ser plenamente atingida, só bastando para isso que a
boa vontade de ambos aflore naturalmente.
Convenhamos falar é muito mais fácil do que fazer, assim
como é bem mais fácil resolver o problema dos outros do que o nosso, e acredito
que isso seja uma verdade quase que absoluta, pois quando o nosso olhar é
focado somente na racionalidade, desvinculado das emoções fica muito mais viável
a solução dos nossos problemas.
Por que será então que o ser humano consegue criar
tamanha complicação no momento em que precisa lidar com as suas dificuldades de
relacionamento interpessoais e intrapessoais. E o que dizer então quando ele
tem que lidar com o desconhecido, com o improvável, com o imponderável.
Para encerrar a presente
resenha, me sinto na obrigação de esclarecer alguns pontos que penso serem
fundamentais para o perfeito entendimento da filosofia deste BLOG:
1 – O objetivo deste blog é
dividir com você as agruras e desventuras da vida de um doente crônico, de um
diabético. A partir de sua observação, sensibilidade e
visão particular do mundo, através de uma linguagem simples e descompromissada,
sempre mantendo uma relativa distância dos formalismos próprios dos textos acadêmicos
e ou científicos;
2 – Em nenhum momento me
coloquei e jamais terei a pretensão de achar que poderei ser um modelo ou
exemplo de alguma coisa, afinal sou apenas um ser humano como outro qualquer
que tem inúmeras falhas, medos, aflições e inconsistências, mas que também pode
bater no peito e dizer que tem uma virtude da qual se orgulha muito, jamais
escamoteei ou encobri alguma dificuldade ou limitação das demais pessoas e
principalmente de mim mesmo;
3 – “O dono da verdade”,
isso é algo que tenho certeza que não existe, logo é uma mancha que absolutamente
não carrego em minha personalidade, além do que posso dizer que a vida vem me
ensinando que nem dono da minha própria verdade eu consigo ser;
4 – Mesmo estando, com a
graça de Deus, com as minhas taxas e demais indicadores médicos em níveis
controlados, e também considerando a devida ajuda dos remédios referendados
pelo meu médico, não posso deixar de me incluir entre os mais necessitados de
aprimoramento no processo de auto conhecimento e auto controle das intempéries
que assolam um indivíduo portador de uma moléstia crônica. “C’est la vie” (é a
vida)
Rodolfo S Cerveira.
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