domingo, 24 de dezembro de 2017

A MAGIA DO NATAL DE UM DIABÉTICO


Muito se fala da magia da época do Natal, o clima muda, surge uma nova e melhor atmosfera, as pessoas ficam mais propensas a olhar para si mesmas e para as outras com um olhar um pouco menos observador e crítico. “Que o amor esta no ar”, enfim são inúmeras afirmações e frases de efeito que tentam ilustrar o que realmente acontece neste período tão especial do ano. Acredito que independente da religião e do credo de cada um, é sim uma época mágica, carregada de significados maiores capazes de promover uma pequena pausa do espectro de “insanidade” em que o mundo se transformou no resto do ano. Para os mais céticos talvez seja um exagero a utilização do termo MAGIA, e de certo que não estou aqui para fomentar discussão alguma acerca do assunto.


Peço permissão para fazer um breve parêntese, pois na condição de um filho do Estado do Pará, onde para boa parte dos que ali nasceram e vivem, o verdadeiro Natal acontece por ocasião da realização do Círio de Nazaré, sempre no segundo domingo de outubro, onde as pessoas se transformam e a cidade fica diferente, há realmente uma atmosfera de festa e congregação em torno de uma força espiritual muito grande, que transcende a todas as teorias cientificas conhecidas existentes. A cidade fica cheia de visitantes provindos de todas as partes do Estado, do País e do mundo. “Tudo em Belém tem em suas entranhas a Aura do Círio”, mesmo as coisas que não estão diretamente relacionadas a fé, como por exemplo o calendário do comércio paraense que é extremamente influenciado pelo mesmo, pois desde os meses de julho e agosto as empresas começam a atender a demanda por produtos e serviços “pré e pró” Círio, ou seja, o paraense em especial, tem uma preocupação específica de se vestir melhor para a festa, de arrumar a casa para o Círio de Nazaré e consequentemente ela já fica pronta para receber o Natal, em dezembro. É sabido que existe um lado profano da grande manifestação de fé, mas que em nenhum momento ou sob nenhum aspecto consegue ofuscar a grandiosidade e a significação da festa religiosa. E o dia da procissão do Círio de Nazaré propriamente dito é o verdadeiro domingo de Natal da maioria dos paraenses.


Fazendo uma breve analogia com o famoso e bem-aventurado domingão, aquele dia da reunião da família, da congregação familiar em torno da mesa, dia de realimentar e reforçar os mais profundos laços que temos, pois sem sombra de dúvida, é a família o primeiro e mais importante núcleo da sociedade, ou mesmo da humanidade, então porque não podemos considerar e fazer do domingo um dia ainda mais mágico, “um dia de Natal”, porque não. Afinal ele reúne todas as características que podem torna-lo um dia verdadeiramente especial. Já que o amor, o companheirismo e a solidariedade normalmente estão bastante latentes e dessa forma precisão ser exercitados em sua plenitude.


Com o advento do diabetes, o meu natal perdeu algum glamour, na verdade perdeu alguns sabores especiais, pois minha casa sempre foi regada a muita comida boa e doces maravilhosos, afinal é a casa de uma excelente cozinheira e isso, como diz um personagem televisivo conhecido, “já não me pertence mais”. Devo confessar que ainda assim acabo extrapolando um pouco, por vezes muito, mas no frigir dos ovos esse “pseudo exagero” ainda é bem menor que outrora, e convenhamos que fica difícil resistir às inúmeras guloseimas próprias da época, como por exemplo ao bolo de nada (denominação carinhosamente dirigida ao bolo sem recheio – uma delícia, que fazia parte de quase todos os meus sábados anteriores ao diabetes), vale dizer que neste caso específico em que o mesmo é alusivo a uma data tão significativa ele recebe o recheio de passas, ao pãozinho da Tia Neli (uma maravilha regada a chocolate), as empadas de queijo e de carne, hum!, aos biscoitos de castanha, tudo devidamente produzido in loco. Me reservo ainda o direito de fazer “pouco caso” dos panetones da vida, aos quais não tenho nenhum apreço, mas também se fazem presentes, já que as outras pessoas gostam.


De fato, fico travando uma guerra de foice com a oferta de tanta coisa gostosa. Por outro lado, nem só de comida se faz o Natal, afirmação óbvia e verdadeira, que na prática não é tão simples de comprovar, pois lembrando algumas antigas máximas da humanidade como: “o homem é o que come”; “podemos conhecer um povo pela sua mesa”; “ a história da humanidade pode ser contada pela forma como cada povo se alimentava”, só para exemplificar, verdadeiramente somos muito mais que estomago e cabeça, afinal a vontade de comer começa na cabeça. Brincadeiras à parte, a magia do natal vai muito além de sua encantadora gastronomia, logo é plenamente possível e altamente recomendável que o ser “humaninho” diabético, deleite-se com as suas oferendas sem entretanto, nenhum ou quase nenhum prejuízo a sua saúde, mantendo a sua dignidade e o seu bem viver. Não é fácil, mas é preciso.


Um ótimo natal a todos


Rodolfo S Cerveira

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

A INCAPACIDADE DO SER HUMANO DE SE COLOCAR NO LUGAR DO OUTRO


Em um post anterior deste blog, lembro de ter falado sobre a extrema solidão de um doente crônico, pois de fato ninguém consegue se colocar no lugar dele, ninguém consegue dimensionar a sua DOR, a sua desilusão pela sua incapacidade de manter o tratamento sempre em um nível desejável, enfim da dificuldade das demais pessoas de experimentar esse universo tão particular e solitário.


Na semana passada participei de um curso sobre ACESSIBILIDADE, em que no último dia foi feito um exercício de vivência, ou seja, algumas pessoas experimentaram mesmo que por alguns momentos estar em uma cadeira de rodas ou estar com uma venda nos olhos e ter que fazer uso de uma bengala para se locomover, a sensação é indescritível e assustadora, mas também é muito enriquecedora, pois é possível sentir na pele as agruras e dificuldades das pessoas que permanentemente convivem com essas limitações em seu dia a dia, mesmo que por alguns “míseros” minutos, mas ainda assim é inteiramente impossível nos colocarmos verdadeiramente no lugar dessas pessoas.


Por outro lado, seria muito bom para nós mesmos e também para o conjunto da sociedade se nós aprendêssemos a mudar o nosso referencial, ou seja, se procurássemos pensar que a situação das mencionadas pessoas requer providências especiais realmente, senão vejamos, quem é que não ficou chateado e mesmo tentado a usar uma vaga de estacionamento exclusiva para cadeirante e ou idoso, depois de ficar vários minutos procurando uma vaga mais próxima ao destino desejado. Quem em um momento de extrema “aporrinhação” já não chegou a pensar que talvez esse privilégio seja exagerado. Mesmo porque esses direitos adquiridos por essas pessoas são muito justos, entretanto eles não excluem o direito dos demais. Logo se mesmo hipoteticamente “conseguíssemos estar” no lugar dessas pessoas, nos seria possível perceber mais facilmente que a vaga deles deve ser a mais próxima, SIM, porque é extremamente necessário que assim o seja, afinal só dessa forma eles demandarão um menor esforço físico para chegar ao seu destino, sem falar das dificuldades que não só eles, mas todos nós temos que superar face a extrema incapacidade do poder público e também da sociedade de pensar seus espaços para serem mais acessíveis a todos, não só para os deficientes físicos, visuais e intelectuais e demais pessoas portadoras de qualquer perda de mobilidade. Afinal as cidades brasileiras são pródigas em apresentar problemas de toda ordem à livre locomoção das pessoas, tais como, calçadas sem piso tátil, pistas de rolamento e calçadas mal traçadas, esburacadas e sem manutenção, escolha de pisos inadequados, falta de sinalização e adequação de ruas e meio fio, só para citar alguns exemplos desse completo despreparo, apesar das inúmeras leis que já foram criadas para tentar minorar esse problema, muito pouco avanço de fato pode ser constatado nessa área.


Eu acredito que a nossa principal carência não é de leis e sim de educação, de cultura, de solidariedade, de realmente colocar em prática o chamado “amor ao próximo”, esteja este próximo ou não. E nesse caso seria muito benéfico para cada um de nós e principalmente para a sociedade, se fizéssemos um exercício de tentar olhar o mundo e as coisas sob a ótica do deficiente físico, de forma a entender as suas dificuldades mais precípuas, digo melhor, quando você se deparar com um problema de locomoção ou mesmo de qualquer outra natureza, procure não olhar para o fato somente com a ótica das pessoas “ditas normais”, (desculpem o uso do termo, mas foi proposital, pois quem foi que disse que o deficiente físico não e normal? Ele apenas tem uma deficiência específica, que apesar de limitar algum sentido ou movimento, não o torna incapaz. E é isso que precisa realmente ser mudado). Assim sendo procure analisar a situação com uma visão macro, objetivando alcançar o verdadeiro grupo de pessoas que irá fazer uso do mencionado equipamento, isto é, aquele em que todos nós, sem distinção, somos parte integrante.


Fazendo uma breve analogia entre a situação do deficiente físico com a do doente crônico, no caso deste blog em que o foco é o diabético, pois ambas as categorias merecem e carecem de uma melhor atenção da sociedade e do Estado, no sentido de pensar e de prover os espaços e equipamentos públicos e privados de mecanismos e soluções capazes de minorar o sofrimento dessas pessoas, e assim otimizar não só as suas vidas, mas também a de todos os integrantes da sociedade, tornando-a verdadeiramente mais igualitária. Dessa forma é fundamental que os mencionados entes passem a desenvolver políticas e ações direcionadas a melhoria do espectro de vida desse grupo de pessoas cada vez mais numeroso e significativo.



Rodolfo S Cerveira

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

O QUE É ACESSIBILIDADE?


De tempos em tempos a humanidade cria, ou muitas vezes simplesmente eleva um tema a categoria de “mega, ultra” importante, vale dizer que nem sempre os motivos que provocam o “despertar” ou mesmo que determinam o “time” desse processo são os mais éticos e dignos. Mas o fato é que desde que “o mundo é mundo” isso acontece e acho muito improvável que venha a se modificar drasticamente algum dia. Dessa forma o eleito do momento é a tão propalada e inegavelmente imprescindível INCLUSÃO SOCIAL, deixemos então as razões menos ou mais dignas de lado e vamos ao que realmente interessa.


A informação é sem sombra de dúvidas, a mais valiosa “mercadoria” da atualidade, e portanto deve ser democratizada, franqueada a todos, pois essa é a primeira e a principal forma de promover a Inclusão social. Todavia não há como pensar nela se não falarmos também de acessibilidade, isso é fato, e para começarmos com toda a dignidade que o tema exige e merece, precisamos promover a quebra de um paradigma. De uma maneira geral quando se fala em acessibilidade logo se relaciona a meios e mecanismos para melhorar a vida do deficiente físico, visual e ou intelectual. Neste momento é necessário inserir um novo termo que se refere a uma outra categoria de pessoas, que também faz parte desse enorme contingente de cidadãos que tanto precisam ser inseridos no conjunto da sociedade, que são as pessoas com mobilidade reduzida temporária ou permanente. Logo é primordial promover uma mudança radical nessa maneira de ver as coisas, pois o mundo, as cidades, o campo, os logradouros públicos, a empresa privada, o órgão público, a casa de cada um de nós, enfim todos os espaços devem ser em princípio acessíveis a todos e não e tão somente para os deficientes físicos em geral. Dessa forma é fundamental revermos os nossos conceitos e aprendermos a olhar todos com o mesmo olhar, sob a mesma ótica, enxergando o todo e a todos, é claro que sem deixar de respeitar as mais diversas especificidades que cada grupo traz em sua essência.


A importância de universalizar a acessibilidade, de deixá-la ao alcance de todos reside também no fato de que em algum momento de nossas vidas, seja porque motivo for, poderemos ser potenciais usuários dos mecanismos criados para tornar o nosso meio ambiente e o nosso habitat mais acessível. Mesmo que não sejamos portadores de nenhuma deficiência física de qualquer ordem, pois há diversas situações na vida que isso pode se materializar e acabar nos causando algum tipo de sofrimento ou privação. Isso pode ser facilmente visto quando vemos por exemplo uma fileira de telefones públicos (coisa considerada jurássica, diante do surgimento do celular) com alturas diversas, quando temos banheiros coletivos com alturas igualmente diferentes e providos com os mais diversos equipamentos como barras de apoio, maçanetas em forma de alavanca, área de transferência e etc..., possibilitando dessa forma atender não só ao anão e ao cadeirante, mas também a criança e a pessoa com baixa estatura; a instalação de balcões e mesas nos lugares de uso comum em alturas que possam atender a todos indiscriminadamente; devemos considerar também um fenômeno incontestável que é o envelhecimento da população mundial, ou seja, a acessibilidade do idoso cada vez mais terá uma demanda crescente, e então será necessária a criação e ou adaptação de espaços públicos e privados de pequena, média e grande circulação de pessoas com o mínimo de espaços e equipamentos de sinalização visual, tátil e sonora disponíveis para sua perfeita utilização, ou seja, não se pode pensar em um espaço ou mundo acessível para determinadas pessoas e sim para o grupo em que fazem parte todas elas.


Neste blog ou em qualquer outro espaço, eu não poderia deixar de frisar a importância da acessibilidade quando nos referimos aos tratamentos e remédios para os doentes crônicos, entre os quais eu me incluo, como diabético. É fato que já há algum tempo essa preocupação faz parte das políticas públicas do Estado Brasileiro, entretanto isso ainda é feito de forma muito incipiente, necessitando então de muito aprimoramento no seu conceito e na sua forma para enfim poder receber a aura ou denominação de universal. Será mesmo um sonho?


Para finalizar essa resenha acredito ser importante incluir no rol das pessoas que precisam usufruir plenamente da acessibilidade os portadores da mais nova face das doenças crônicas, as chamadas doenças psicológicas, as diversas síndromes que cada vez mais afetam um número surpreendentemente maior de pessoas. Dessa forma seria bastante salutar incluir no bojo do planejamento e dos projetos sobre o assunto, um olhar mais atento, que possa criar soluções que atendam também as contingências desse enorme conjunto de usuários. Esta mais do que na hora de ir à luta, senhores! Vamos lá!



Rodolfo S Cerveira

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

AS DOENÇAS DO NOSSO TEMPO – DOENÇAS PSICOLÓGICAS


O dinamismo com que os fatos humanos passam por mutações através do tempo é verdadeiramente assustador, a velocidade é tamanha que é quase impossível o conhecimento humano e a ciência manterem-se atualizados em relação ao processo de transformação dos mesmos. Portanto em muitos campos da atividade humana a defasagem é considerável, andando sempre a reboque dessas novas manifestações, e dessa forma acaba gerando problemas bem “caros” à sociedade.


Há 10, 15 anos atrás um dos principais focos da pesquisa médica eram as doenças advindas das más posturas físicas durante as atividades do trabalho, seja ele repetitivo ou não, e também englobavam as demais atividades humanas que envolviam posturas prejudiciais ao corpo humano, como por exemplo as doenças da coluna vertebral que eram provocadas pelo excesso de tempo sentado ou deitado, ou mesmo as doenças relacionadas aos esforços repetitivos tão próprios a algumas atividades muito comuns, tais como jogos eletrônicos, videogames portáteis, celulares, itens tão presentes na vida das gerações contemporâneas.


O grande vilão do momento em que vivemos é o crescimento acelerado do número de casos de doenças psicológicas que estão intimamente relacionadas ao alto grau de ansiedade do mundo moderno, caracterizado por muitas dificuldades socioeconômicas e financeiras, pela desesperança com o presente e consequentemente com o futuro também, insuficiente oferta de trabalho, insegurança pública, só para citar alguns poucos fatores. São doenças da alma e do espírito – e com certeza isso é só uma questão de nomenclatura – que de uma forma ou de outra acabam provocando efeitos e ou danos físicos muito graves. Transtorno de ansiedade, depressão clínica, aneroxia, transtorno obsessivo compulsivo, transtorno bipolar e síndrome do pânico, são alguns exemplos do arsenal de moléstias que assolam o homem moderno.


Um dado assustador é o aparecimento da depressão em um grande número de jovens, muitas vezes em adolescentes e até mesmo em crianças. Ainda mais preocupante é o fato de que a grande maioria dos pais, tios e demais parentes mais velhos, ou melhor, a maior parcela da sociedade ainda não tem consciência da gravidade e da extensão da doença, do grau de comprometimento que ela pode ter e portanto, o quão importante é despertar para essa realidade, o quanto antes, pois do contrário os danos poderão ser catastróficos e irreversíveis.


Como tudo na vida há sempre os dois “lados da moeda”, pois lembro que há mais de 15 anos me deparei com uma pessoa que tinha fobia de elevador, ou seja, ela não entrava sozinha de forma alguma em um elevador. A princípio isso me pareceu meio absurdo, exagerado, mas como sempre procurei respeitar o limite de cada pessoa, me contive e evidentemente procurei não externei o meu espanto com o fato em si. Com o passar do tempo e após adquirir algum conhecimento de causa sobre esse universo, consegui ter um outro olhar sobre a questão, o olhar de quem esta inserido no mesmo, pois além de diabético descobri que sou portador da síndrome de pânico e devo confessar que tenho uma relativa história de episódios em que ela se manifestou e que felizmente consegui mantê-la sob controle, algumas vezes com mais outras com menos esforço, e sempre com a preciosa ajuda da minha racionalidade conjugada a minha religiosidade, por mais paradoxal que isso possa parecer, para mim tem funcionado a contento. Mas uma coisa que já aprendi sobre essa síndrome é que cada pessoa precisa achar o seu próprio caminho, a sua maneira particular de sair da crise, de vencê-la e seguir em frente. Não quero dizer com isso que é fácil, absolutamente não é, mas é algo que precisa ser feito, além é claro de buscar toda a ajuda profissional possível que esteja ao seu alcance, afinal trata-se de recuperar o seu bem-estar, a sua saúde mental.


Resolvi escrever sobre o assunto e até mesmo expor o meu caso em particular, com a finalidade de tentar provocar nas pessoas a reflexão sobre a relevância do tema, pois trata-se de uma doença com um alto grau de complexidade e que precisa de uma maior atenção da sociedade para que não acabe por se tornar numa verdadeira epidemia dos tempos modernos. É imprescindível que a comunidade mundial conheça melhor suas causas, seus efeitos, seus tratamentos e acima de tudo tenha a capacidade de se despir de seus dogmas e preconceitos, afinal Síndrome de Pânico, fobia, depressão e etc..., NÃO É FRESCURA, NÃO, como infelizmente ainda existem alguns acéfalos que bradam por aí. Vamos acordar, “povo”.



Rodolfo S Cerveira

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

SER OU NÃO SER UMA PCD


Desde o dia em que mantive o primeiro contato com as teorias de Albert Eisntein pude perceber o grau de abrangência que as mesmas têm na minha e na vida das pessoas em geral. Nesta resenha vou manter o meu foco na teoria geral da relatividade, que basicamente apregoa que tudo no mundo e na vida depende do referencial de quem olha, sente ou mesmo da posição em que se encontra, em relação a um determinado fato ou situação.


Há pouco mais de dois anos tomei conhecimento pela internet de uma lei federal que dá direito aos portadores de PCD (Pessoa com Deficiência), a uma isenção de impostos na ordem de 27%, para a aquisição de um automóvel 0km. Realmente algo bem interessante, principalmente nesses tempos tão difíceis que vivemos. Para minha surpresa verifiquei que dentre as enfermidades listadas na referida lei, não está o DIABETES, o que me pareceu lógico afinal dificilmente essa doença está diretamente relacionada a problemas de locomoção, todavia pude comprovar que a minha malfada HERNIA DE DISCO fazia parte da referida lista. Portanto segundo a LEI, eu tenho direito ao referido benefício. De certo que não considero isso uma notícia de todo BOA, afinal bom mesmo seria não ter a “mardita” enfermidade, mas como não há maneira de mudar essa realidade, então vamos pensar em usufruir dessa “benesse”, afinal acredito ser essa a única coisa positiva de ser portador da enfermidade, pelo menos por aqui no país do Futebol.


Nesse momento lembrei-me claramente das palavras do meu médico neurologista, há aproximadamente 10 anos atrás, quando me repassou o fatídico diagnóstico (“Sua hérnia é relativamente grande e se você não se cuidar, e bem, provavelmente ela vai te causar muito sofrimento, pois se hoje isso ainda não acontece é em função da sua vida pregressa, pois você foi um atleta, e acumulou uma reserva estrutural na sua coluna, mas se os cuidados (exercícios específicos e alongamentos) não foram mantidos regularmente, essa reserva deverá se esgotar e com o passar do tempo “a coisa vai pegar”). Em função do crescimento da fama e da clientela do referido profissional, acabei deixando de frequentar o seu consultório, e para ser bem sincero o de qualquer outro médico dessa especialidade também. O que é uma grande irresponsabilidade da minha parte, devo admitir. Mas para o meu infortúnio, a cada dia que passa estou comprovando o quanto ele é competente e o quanto as palavras proferidas naquele momento carregam de verdade.


Coincidentemente um dos meus projetos de vida atual é um canal do Youtube, intitulado ARQUITETURA AO ALCANCE DE TODOS, onde forneço algumas dicas básicas inteiramente gratuitas sobre os diversos assuntos relacionados a minha profissão de ARQUITETO e até mesmo da engenharia civil em geral. E não menos curioso, é o fato de que o foco atual do canal é uma série de vídeos sobre acessibilidade para as pessoas com algum tipo de deficiência física ou visual e ou pessoas com mobilidade reduzida. Na verdade é uma pequena amostra do trabalho que pretendo realizar nessa área tão carente de informações e de atenção das pessoas que por lei teriam a obrigação de zelar pelo compromisso de tornar o mundo um pouco mais igualitário.


A grande ironia disso tudo é que até ontem, quando vi no título de um vídeo do Youtube, que fazia menção a uma versão especial de um automóvel destinado ao público PCD, não tinha me dado conta da abrangência e da aplicabilidade do termo PCD (Pessoa com Deficiência) e nem muito menos que de uma forma meio “torta” acabei me vendo inserido nesse universo no momento em que acreditei ser um potencial beneficiário da isenção anteriormente mencionada nesta breve resenha, algo que para mim é bastante surreal. Dessa forma passei a me questionar se realmente sou uma PCD, pois não é assim que me enxergo e ou me percebo. Entretanto para ser bem honesto a resposta mais apropriada a essa pergunta é NÃO, pois não sou portador de nenhuma enfermidade que assim me defina, por outro lado levando em consideração os novos conceitos sobre o assunto, posso ser enquadrado na condição de pessoa com mobilidade reduzida na medida em que em função da ação devastadora da hernia de disco na minha vida, passei a ter algumas restrições para desenvolver as minhas atividades rotineiras ou não, principalmente as que dependem do aparelho locomotor. Logo no “frigir dos ovos”, sou sim um candidato a esse desconto, o que me torna efetivamente uma PCD?. Isso é muito louco, você não acha?



Rodolfo S Cerveira

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

AS DIVERSAS VOLTAS QUE A VIDA DÁ


A vida toda nos acostumamos a ouvir expressões do tipo “a vida é um ciclo”, “a vida dá voltas”, enfim uma série de frases que em tese simbolizam a dinâmica com que a vida se apresenta para nós, meros mortais. Mas que na prática representam o acelerado dinamismo com que ela se mostra e nos envolve de maneira tão avassaladora. De certo que precisamos estar atentos às diversas transformações, sob pena de perdermos coisas importantes ou mesmo nos perdermos nesse processo todo.

De fato acredito que o saldo de tudo que ganhamos e perdemos no transcorrer desse processo ao qual chamamos de VIDA NOSSA, LOUCA VIDA, já parafraseando um cantor famoso, o que realmente nos faz falta são as amizades, as verdadeiras amizades, as mais puras manifestações de amor desinteressado, que seja porque motivo for, vão ficando pelo caminho deixando um vazio imenso, que incomoda, que dói demais, e que muitas vezes infelizmente somos incapazes de esboçar uma real tentativa para salvá-las e ou recuperá-las, seja por orgulho, por amor próprio ou mesmo por pura incompetência de seres tão imperfeitos que somos.

Já seria uma grande vantagem se nós conseguíssemos admitir que esse tipo de comportamento nos é tão danoso, nos causa tamanho mal. Mas para nossa infelicidade, via de regra, passamos pela vida sem maiores preocupações acerca disso e muitas vezes só nos damos conta desse fato quando somos submetidos a situações de extrema dor e perda, que de uma forma ou de outra, nos tocam profundamente e nos levam a repensar os nossos conceitos e formas de ver a vida. Algumas vezes nos é dado o benefício de uma segunda chance, se bem que nem sempre isso acontece, ou mesmo em alguns casos, as pessoas são incapazes de identificar a referida segunda oportunidade, mesmo que ela esteja tão explicitamente apresentada diante de si.

Quando nos vemos diante do surgimento de uma doença crônica, no caso específico deste blog, do DIABETES, é fundamental que passemos a desenvolver a capacidade de nos tornarmos seres um pouco mais humanos e menos “perfeitos”, como erroneamente e intimamente sempre pensamos que fossemos, mesmo que jamais tenhamos admitido, até para nós mesmos. Na verdade, a ideia principal é fazer uma “reengenharia” – nossa, “taí” ela de novo, palavrinha tão em voga há algum tempo atrás e que agora voltou ao “limbo“ - é reinventar a vida, seus hábitos, conceitos, dieta alimentar, enfim é definitivamente iniciar uma busca obstinada por uma melhor qualidade de vida, pelas coisas realmente importantes, por tudo aquilo que tem um verdadeiro significado para nós. Que nos faz vibrar, sorrir, desejar, amar, emocionar, enfim tudo aquilo que nos transmite o verdadeiro sentido de estar e continuar vivo.

Retornando ao cerne desta breve resenha, e indo direto ao ponto crucial, é estritamente necessário que deixemos de falar do aparecimento da doença em terceira pessoa, como se fosse uma coisa totalmente fortuita, e que nenhuma influência nós tivemos em sua chegada. Afinal com ou sem consciência dos nossos atos, sempre fomos parte importante e de fato determinante para o seu surgimento e posterior desenvolvimento. Logo nos cabe a partir de então um rigoroso controle para não incorrer no mesmo erro, pois poucos são os que terão a graça de usufruir de uma terceira chance. Quem sabe?



Rodolfo S Cerveira

domingo, 15 de outubro de 2017

DIAS MARCANTES NA VIDA


Nossas vidas são pontuadas por acontecimentos marcantes, mais ou menos importantes, que deixam memórias e histórias boas ou ruins, de toda forma, fatos que deixam a sua marca indelével em nossas existências. Hoje em particular quero deixar um breve relato sobre uma das datas mais importantes da minha vida, que é o dia 13 de outubro de 1995, data do nascimento de minha primogênita, minha querida e amada filha.

Como a grande totalidade das “graças” alcançadas em minha vida, o fato de ser pai - que para muitos é tão natural e em alguns casos chega até a se constituir em um enorme problema - não fugiu à regra, tive que batalhar para conseguir realizar esse sonho, que afinal era muito intenso “desde que me entendo como gente”. Esperar por oito longos anos, depois de casado; passar por uma cirurgia de varicocele para evitar possíveis futuras dores, pois para ser fiel as minhas convicções, jamais faria uma intervenção cirúrgica com o objetivo único de melhorar a fertilização, pois sempre achei que a primeira alternativa viável seria a adoção, por outro lado não há como negar que ela acabou contribuindo para melhorar esse aspecto também; quase adotar uma criança, uma outra menina, que o destino não quis que fosse concretizada; enfim passar por várias situações dolorosas e que muito dissabor me causaram, foi um grande aprendizado, foi literalmente “engrossar o casco”, mas nem por isso posso dizer que não valeu a pena, há! isso não.

Lembro bem que nessa época, ano de 1995, as coisas não estavam muito fáceis, as dificuldades financeiras eram consideráveis e a possibilidade de um considerável incremento de despesas com a vinda de um filho, justo o(a) primeiro(a), mexe com o “cabeção” de qualquer pessoa, dá uma tremedeira nas pernas, um aperto no “estrobago”, enfim o sujeito fica pra lá de mexido, mas também não é nada que não possa ser plenamente administrado, mesmo porque a avalanche de bons sentimentos, da expectativa que a novidade traz em seu bojo é algo que supera qualquer preocupação, deixando um saldo pra lá de positivo. De fato em poucos dias eu já estava conseguindo afastar um pouco as preocupações com o lado prático da situação e curtindo o lado mágico, maravilhoso do fato de me tornar PAI, verdadeiramente nas nuvens.

Aos 32 anos de idade com muito mais expectativas e bem mais saudável, pois ainda não tinha sido apresentado a hérnia de disco, nem muito menos ao diabetes, a vida era bem mais fácil. Será mesmo? È fato que elas já estavam lá, digamos incubadas, esperando o momento para se mostrarem, me perdoem a figura de linguagem, mas é desnecessário dizer que a vida vai nos mostrando caminhos diversos dos que nós traçamos inicialmente, ou sonhamos um dia. Logo é fundamental nos adaptarmos o quanto antes as novas realidades que nos são apresentadas, aprendendo a extrair delas o melhor possível, para enfim seguir em frente rumo ao bem viver

Para finalizar este breve relato, quero desejar a pessoa que á a razão, a inspiradora do mesmo, que no meu coração e na minha memória afetiva, será sempre o meu bebê amado, que hoje completa 22 anos, uma vida cheia de realizações e que Deus esteja sempre iluminando o seu caminho. E que com certeza estarei sempre olhando e orando por você. Te amo muito filhota.



Rodolfo S Cerveira

domingo, 1 de outubro de 2017


De onde vem à extrema onipotência do ser humano quando ele se intitula o ser mais importante do Universo, quando ele se coloca na posição de centro do mesmo. Fico impressionado com tamanha desfaçatez, afinal um ser que tem um período de vida que pouco excede aos 100 anos, pode se colocar em uma posição de superioridade, quando comparado ao tempo de existência do mundo como um todo, que segundo consta está ai há alguns milhões de anos. O que leva esse ser, pelo menos sob este aspecto, tão insignificante, a achar que é o todo poderoso do Universo, depois do criador, para os que acreditam, é claro.

De certo que essa é uma questão que sempre me causou estranheza, e mesmo admitindo que sou um cético de carteirinha, pois custo a crer na existência de extra terrestres como algumas pessoas apregoam, porém para manter uma certa coerência, acredito que não somos os únicos habitantes desse planeta, talvez nem mesmo da mesma forma e apresentação, por assim dizer. De fato devem existir outras formas de vida mais ou menos desenvolvidas e ou refinadas, enfim no mínimo diferentes de nós.

Então de onde vem essa enorme pretensão do dIto “ser humaninho” de se achar isso tudo? Difícil de responder, mas acredito que é algo que merece uma reflexão profunda de todos nós, afinal precisamos avançar cada vez mais no processo de conhecimento do lugar onde vivemos e principalmente do ser que habita dentro de cada um de nós.

Não é preciso um esforço muito grande para perceber as inúmeras manifestações desse comportamento destrutivo, dessa extrema irresponsabilidade com que o homem trata o espaço em que vive. Do imenso desrespeito com que trata das questões mais importantes que dizem respeito a princípio ou mesmo por derivação a ele próprio, a sua sobrevivência, ao seu bem viver e a continuidade da vida no planeta. Por outro lado também é preciso salientar que já existe um movimento muito significativo de uma pequena, mas crescente parte da sociedade mundial, que visa reorientar e redimensionar essas questões, no sentido de explorar um novo universo de ideias e ações mais profícuas que com certeza poderão fazer desse mundo um lugar bem melhor de se viver.

Se considerarmos o universo micro de um único “ser humaninho”, poderemos perceber que o mesmo não consegue manter uma mínima coerência nem com as questões mais intimamente ligadas a sua própria saúde, que pelo menos em tese, seria algo de suma importância para o mesmo. Entretanto os exemplos de exageros e desrespeitos aos limites do seu próprio corpo são incontáveis, as agressões as suas condições psíquicas são igualmente preocupantes, e tudo isso agregado acaba determinando uma condição de vida muito precária, ceifando na verdade boa parte desta. Vale ressaltar que isso acontece em todas as camadas da sociedade, independente do grau de instrução e do poder econômico. Talvez por essa razão as doenças crônicas tenham encontrado um terreno extremamente fértil para se disseminarem, tornando o ser humano cada vez mais refém de suas consequências quase sempre tão devastadoras. A desinformação e até mesmo o acelerado processo de aculturação da sociedade, que muitas vezes é incentivado pelos próprios governos constituídos, é a principal chaga a ser combatida para se extirpar esse mal do nosso tempo.

A onipotência e oniciência do ser humano tem sua face mais preocupante quando ele acha que é o dono de sua própria verdade, de sua própria existência. Desprezando as verdades ocultas do mundo, deixando de lado o respeito à natureza e principalmente promovendo a desagregação entre os seus pares. Pobre “ser humaninho”.


Rodolfo S Cerveira

sábado, 9 de setembro de 2017

O MUNDO MASCULINO E SUAS VERDADES OCULTAS


Todos os dias quando acordo tenho o costume de ligar a TV aberta, para me inteirar das primeiras notícias da manhã e quase sempre me deparo com uma propaganda de uma instituição, que pela aparência e a constância com que anuncia nesse horário, deve ter algum respaldo e confiabilidade perante a sociedade. A mensagem principal da mesma traz a afirmação de que mais de 50% dos homens acima dos 40 anos tem problemas de ereção ou de impotência sexual. Caramba, a princípio isso me deixou um tanto espantado, será mesmo, será que não é um exagero, é tanta gente assim?. Com a experiência que meus 53 anos me proporcionaram acredito que nem 2% desse total assume pra si mesmo  que faz parte desse contingente.

Desde muito cedo o menino tem que aprender as especificidades e os meandros do chamado “Universo masculino”, ou seja, aquelas coisas, mitos, “estórias para boi dormir”, verdades ou mentiras, que muitas vezes não são ditas, mas que ficam nas entrelinhas e que fazem parte do mundo dos possuidores do “saco escrotal e seus complementos”. Por volta dos 10,11, 12 anos quando ele se encontra em uma roda de amigos, e que neste grupo há um garoto um pouco mais velho, 15,16, 17 anos, normalmente bem afeiçoado, e que costuma contar vantagens extraordinárias relativas as suas conquistas com as garotas, até mesmo de mulheres mais velhas (na minha época denominadas “papa anjo”), apresentando um desempenho sexual muito acima da média, muitas vezes próximo de ser um fenômeno, por assim dizer, contando vantagens que a própria ciência biológica desmente e desautoriza. Estórias essas que são absorvidas pelo grupo como se verdades absolutas o fossem, pois como seus pais estão muito distantes - independente do motivo, se pela diferença de mundo, de época, pela distância em função da idade ou mesmo pelo tipo de criação - no frigir dos ovos, o fato é que não conseguem manter um diálogo mais franco e aberto com os seus filhos, e assim acabam não esclarecendo certas dúvidas que tem o poder de se tornar problemas muito graves e que podem atormentá-los para o resto de suas vidas.

O tempo passou e o garoto se tornou um homem, senhor de sua masculinidade, de sua hominidade, pelo menos é isso que a sociedade espera dele. Mas nem sempre isso é o verdadeiro retrato da sua realidade, e é nesse momento que surge uma das muitas verdades ocultas do mundo masculino. A insegurança, o medo e as incongruências não devem fazer parte do homem, pelo menos é assim que o tal mundo masculino apregoa em alto e bom som. Portanto essas características tão comuns na grande maioria dos seres humanos, homens ou mulheres, fica condenada a habitar as alcovas do ser “macho” e só são minimamente abertas ou expostas às suas parceiras do outro lado, as “fêmeas”. Raramente um homem consegue se expor tão profundamente para um outro da mesma condição, é uma barreira quase que intransponível para a referida espécie.

Só para ilustrar melhor o que eu chamo de “mundo masculino”, vou citar alguns exemplos práticos de como ele funciona. Quem já não ouviu falar da preocupação que boa parte dos homens tem com o tamanho do pênis, que conscientemente ou não, é constante um motivo de comparação, é quase que um dogma desse mundo tão particular, é algo que pode suscitar problemas comportamentais muito sérios e que por mais incrível que possa parecer é completamente incompreendido pelas mulheres. E a expressão “isso nunca me aconteceu, é a primeira vez”, é uma das maiores mentiras criadas pelo mundo masculino, mas que é comumente dita em todas as partes desse mundo, inúmeras vezes, sem nenhum pudor. Porque será que todo médico proctologista, é também gastroenterologista ou outra especialidade qualquer, e é essa segunda especialidade que é fixada na placa da porta do consultório. Da para perceber claramente em que grau de importância esta a relação da sexualidade com a masculinidade do homem.

Colocando um pouco mais de pimenta nessa “MERDA TODA” vem a idade, o passar do tempo, e com ela as doenças, no nosso caso em especial o DIABETES, aquela doença que traz em seu cabedal a possibilidade de causar a impotência sexual, e nesse caso o mundo masculino fica altamente alvoroçado, fica realmente apavorado, afinal a chegada da impotência é literalmente o fim. Nesse momento vou falar do alto de minha experiência de conviver com essa doença há pouco mais de seis anos, nesse período acabei me interessando um pouco mais pelo assunto, o que me parece bem natural, e passei a agregar alguns conhecimentos que julgo serem importantes não só para os que assim como eu são diabéticos, mas também para as demais pessoas. Na verdade, é preciso que todos fiquem atentos aos diversos problemas que a diabetes pode ocasionar, não só a impotência sexual, que é considerado o grande vilão dessa história, mas também os outros problemas não menos impactantes e preocupantes, tais como; provocar o decréscimo do desejo sexual, acelerar a diminuição do estímulo e do apetite sexual, diminuição do tempo e do próprio orgasmo, assim como outras que não vem ao caso citar nesse breve relato.

Peço perdão se em algum momento eu tornei esse release muito carregado, mas a ideia era apenas despertar nas pessoas a preocupação com o saber bem mais sobre o assunto, para enfim poder se cuidar mais e melhor e ter uma vida mais saudável e feliz.


Rodolfo S Cerveira

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

AMIZADE, A IMPORTÂNCIA DE TER AMIGOS PARA VIVER BEM


Poucas coisas na vida, tem mais importância do que a AMIZADE, talvez só o amor seja um pouco mais impactante e com certeza tem igual relevância e significação, mesmo porque o amor não sobrevive sem a amizade. Por outro lado, é a amizade que consegue manter os laços mais intensos entre as pessoas desse imenso lugar ao qual chamamos de nosso mundo. Isso acontece por meio da congregação de pessoas tão díspares e tão distantes entre si, literalmente de tribos e tipos diferentes sob os mais diversos aspectos, mas que acabam se unindo em torno desse sentimento tão especial.


A família, o primeiro núcleo, realmente “a primeira tribo”, em que nos vemos inseridos, é constituída de indivíduos, de células únicas, (os primeiros e normalmente os mais intensos amigos que teremos na vida), particulares, com características próprias, mas que guardam entre si além de uma gama de interesses e sentimentos afins, uma amizade intrínseca que tem sua semente plantada no seu DNA e que com o desenrolar da vida vai se fortalecendo, apesar da distância física que possa vir a existir entre os seus membros.


Como boa parte dos ensinamentos que vamos recebendo durante a nossa existência, não são por nós inteiramente absorvidos, pelo menos no primeiro momento, alguns de nós deixamos “escorrer por nossas mãos”, até mesmo a essência do fato, do aprendizado propriamente dito. E isso acaba acontecendo muitas vezes em função dos subterfúgios que acabamos criando para de repente não encararmos as situações de frente, “olho no olho, face to face” como se diz por ai, e então acabamos perdendo um tempo precioso com prejulgamentos, preconceitos, pré-requisitos e outras “pré-bostas” que na verdade só servem para atrapalhar, para nos distanciar das pessoas que realmente gostamos, que nos fazem bem e que no fundo gostaríamos que gozassem sempre de nossa companhia. E assim esse tipo de comportamento só serve para alimentar o ciclo vicioso que determina o aumento da distância entre a ignorância e o saber da consequente satisfação da conquista da amizade verdadeira.


Posso dizer que sou uma pessoa que tem muitos conhecidos com quem mantenho relativa e cordial convivência e a quem devoto bons sentimentos de amizade, mas o fato é que amigos como diria o meu pai “AMIGOS DO PEITO”, aqueles que estão sempre prontos a nos ajudar e por quem afirmamos ser a recíproca igualmente verdadeira, esses realmente são poucos, raros e assim me vejo na obrigação de tentar mantê-los sempre nessa condição, afinal esse é o verdadeiro ouro da vida. Fazendo uma breve reflexão e considerando ter plena consciência dessa realidade devo admitir que poderia ter feito um pouco ou quem sabe bem mais para tentar manter algumas dessas amizades para mim tão caras, que hoje estão bem afastadas, e é importante frisar também que em muitos casos o afastamento se deu pela influência direta de uma terceira pessoa, ou seja, foi um elemento externo a relação em si que acabou desencadeando o processo, o que não diminui a minha incapacidade de lidar com a situação. Assim sendo me atrevo a afirmar que sabedoria e uma dose bem menor de orgulho são os nossos melhores companheiros nessas horas.


O “ser humaninho diabético” deve ser antes de tudo o melhor amigo de si mesmo, aprendendo a cuidar bem de seu corpo, de sua alma e de seu espírito, seguindo os princípios da lealdade e fraternidade com a sua própria pessoa. Para quem não tem uma doença crônica, esse tipo de afirmação pode parecer estranha, fora do lugar, mas para poder compreendê-la melhor basta observar as atrocidades que muitas pessoas fazem com seu próprio corpo ao longo de suas existências, ficando assim bem mais fácil de contextualizar a referida citação. Devo dizer ainda que não estou falando do alto de meu perfeito auto controle(coisa que não existe e nem nunca existiu), e em nenhum momento neste blog, adotei a postura do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, pois apesar de estar neste momento de minha vida com a taxa de glicemia sob controle, em tudo o que aqui foi e será postado sempre haverá a preocupação de não faltar com a verdade, pois só assim poderei ´manter o respeito por mim mesmo e também por você que me acompanha. Logo assim como muitos que por ventura venham a ler estas resenhas, sou um diabético bom de boca por natureza, que vez por outra não resiste à tentação e literalmente faz uma “MERDA”, come um sonho de valsa, come uma maravilhosa fatia de torta de morango, toma um refrigerante bem geladinho, toma um suco de maracujá com açúcar, pois com adoçante é uma coisa horrorosa, enfim esses pequenos deslizes fazem parte da minha vida também.


Nas diversas fases da vida, em casa, na escola, no clube, na prática do esporte, no ambiente acadêmico, no mundo do trabalho, no mundo em geral, na rua mesmo, vamos encontrando e somando pessoas a essa classe, na verdade eu diria elevando-as a categoria de amigos. Quantas pessoas, quantos amigos passam por nossas vidas e se vão, se distanciam, nós também nos distanciamos delas é bem verdade, muitas vezes sem um motivo aparente, os “sábios de plantão” dizem que isso é normal, pois os caminhos vão se bifurcando, e cada um segue uma trilha diferente. Eu particularmente, depois de 53 anos vividos, estou sempre procurando preservar a todo custo o meu inconformismo com os ditames, com as ditas verdades da vida, prefiro achar que é preciso ter um olhar um pouco mais atento, meticuloso, interessado para a questão, pois é um patrimônio que temos e pelo qual deveríamos brigar com maior intensidade para mantê-lo e torná-lo ainda mais sólido, e dessa forma nos tornarmos seres um pouco melhores.



Rodolfo S Cerveira

terça-feira, 25 de julho de 2017

MINHA CRENÇA NESTE PAÍS, SE FOI.

Desde que me lembro e me reconheço como um ser pensante, que alimentava firmemente a ideia de que era minha, assim como de todos os brasileiros, a obrigação de lutar para melhorar o país em que vivemos, tentar fazer dele uma verdadeira nação, como diriam algumas pessoas da geração anterior a minha, torná-lo um país desenvolvido. Até acredito que em alguns momentos houve um certo resquício de algo que apontava nesta direção. Ledo engano.

Depois de 53 anos vividos, posso dizer que a grande mudança de chave, de pensamento foi a seguinte; lá atrás na minha juventude, em uma roda de amigos as pessoas tinham um extremo pudor em admitir que teriam levado alguma vantagem em determinada situação, pois isso os envergonharia perante o grupo. Hoje a lógica se inverteu, pois é tão comum e banal levar alguma vantagem, seja no que for, até nas situações mais prosaicas, que as pessoas honestas e que se orgulham de ser honestas, pois esse é o princípio que as norteiam, acabam se resguardando, pois a ideia reinante no grupo é que não se aproveitar de uma vantagem que lhe é apresentada é uma extrema burrice, babaquice, ou qualquer coisa do gênero. Esse SIM é o paradigma mais perigoso que vivemos, é preciso resgatar esse sentimento de correção que minha geração recebeu dos seus pais e que assim como eu, muitos fazem de tudo para que seus filhos levem este digamos “modos operandis” à diante.

A palavra que mais me causa repugnância na vida é HIPOCRISIA, e as sociedades humanas desde sempre tem se especializado nesse quesito. Me incomoda profundamente o ar extremamente tardio de espanto e indignação que muitas pessoas demonstram ao saber das falcatruas que estão sendo diariamente estampadas na grande mídia nacional. Será que estas pessoas realmente não sabiam que a grande maioria das obras e ou serviços que nesse país são contratados com o Estado, é superfaturado, tem preços abusivos, para poder sustentar esse “câncer monstruoso” que é o pagamento de propina. Que saqueia os cofres públicos, que são mantidos com o nosso dinheiro, com o nosso suor, com o nosso sangue. Isso acontece desde o descobrimento deste “pobre” país, de norte a sul, de leste a oeste, em cidades pequenas, médias e nos grandes centros, enfim é uma verdadeira tristeza ter que admitir que isso é um fato incontestável.

Quero deixar bem claro que nunca vesti uma camisa, ou empunhei uma bandeira, seja qual for a cor, identidade ou tendência política, pois sempre me mantive e me comportei simplesmente como um cidadão brasileiro, acima de tudo, que merece e exige ser respeitado por suas ideias e posturas e pelos direitos adquiridos pelo conjunto de leis que nos regem.

Os acontecimentos vergonhosos dos últimos meses, em que instituições como o Supremo Tribunal Eleitoral, a Presidência da República e o Congresso Nacional, “torceram e retorceram as nossas leis”, me causaram extrema repugnância, tamanha a “cara de pau” das ditas autoridades que deveriam zelar pela ordem e pelo cumprimento das leis dispostas na nossa Constituição, mas que literalmente rasgaram a mesma sem nenhum pudor e principalmente sem nenhum respeito ao povo que deu a eles um voto de confiança irrestrito.

O auge dessa BANDALHEIRA, se materializou com o ato insano e desesperado do governo, promovendo a distribuição irresponsável de dinheiro para os parlamentares, que literalmente se venderam ao poder executivo, através da liberação das emendas parlamentares, com dinheiro sabe-se lá de onde. Digo melhor, deve ter vindo do já tão combalido caixa das universidades, hospitais e demais instituições públicas que já há algum tempo vivem em um estado de penúria extrema, sem conseguir cumprir seus compromissos operacionais básicos. Dos programas sociais que o governo anterior, assim como o atual só fazem uso de forma eleitoreira e irresponsável. E dos programas de cunho verdadeiramente importantes, tais como o “farmácia popular” que já esta mostrando os sinais dessa “SACANAGEM” toda, afinal já faltam remédios, em alguns casos o atendimento das receitas não esta sendo de forma integral, até mesmo para os doentes crônicos, diabéticos, hipertensos, cardíacos, e etc..., que são inteiramente dependentes dessa distribuição, pois em sua maioria não dispõem de recursos financeiros para adquiri-los e que tinham uma mera ilusão de que parte de seus problemas estavam resolvidos. Afinal essa classe historicamente sempre foi esquecida e relegada a um lugar no fim da fila das prioridades governamentais.

Apesar de estar entre os poucos doentes crônicos que ainda conseguem adquirir esses medicamentos, não posso me calar frente a essa crueldade do poder público brasileiro.Peço que me desculpem o desabafo carregado de desesperança e de angustia em ver que vivo em um país totalmente PODRE, e não consigo ver uma chance de seu reerguimento. Pois vejo as pessoas apontando o político corrupto na televisão, nas redes sociais, mas não conseguem enxergar os seus próprios desvios de conduta, ao corromperem um franelinha, ou furando uma fila de banco ou de instituição pública ou privada, ou qualquer outro ato indigno e moralmente condenável, que as coloquem na mesma categoria, logo eu pergunto em que elas são melhores que eles, os políticos ladrões?. Diante disso tudo, acredito que a única alternativa é a porta de saída. Quem puder que saia desse pobre país subdesenvolvido, pois essa história de país em desenvolvimento é uma balela que escuto desde os meus 05 anos de idade. Não existe desenvolvimento sem educação e cultura e principalmente “sem vergonha na cara”. Adeus Brasil, é o meu sonho atual!



Rodolfo S Cerveira

segunda-feira, 17 de julho de 2017

O QUE É SABEDORIA?


Porque nos seres humanos, tão pretensamente desenvolvidos já não nascemos suficientemente sábios, carregados de todo o conhecimento de que precisamos, munidos de todas as informações importantes para as nossas existências. Não tenho dúvida que a resposta a essa questão é a necessidade precípua de passarmos pelo processo de aprendizado para enfim conseguirmos atingir o nosso desenvolvimento, enriquecer significativamente o nosso tão empobrecido SER. Enfim atingir o saber sem experimentar o processo de aprendizagem é bastante inócuo, sem sentido, e principalmente empobrece a nossa caminhada no que tange a nobreza dos objetivos a serem alcançados.


Desde que nascemos, ou melhor, atualmente já existem provas cientificas de que mesmo na fase intrauterina, já temos condições de absorver alguns conhecimentos importantes para as nossas vidas, e que provavelmente carregaremos por toda a nossa caminhada. Por outro lado mais importante do que aprender é saber como dispor do conhecimento adquirido, o que fazer com esse saber no seu dia a dia e principalmente na relação com o outro e ainda, como esta muito em voga, com o meio em que vivemos, e isso na verdade pouco nos é legado pelas gerações anteriores, não por culpa especifica de alguém, mas por falta de “expertize” da coisa em si, que somente algumas pessoas conseguem alcançar e que na verdade a grande maioria “não tá nem ai pra essa coisa toda”, o que é uma grande tristeza, pois o mundo seria bem melhor se grande parte dos seres desse mundo despertassem definitivamente para esse fato.


O tempo vai passando vamos crescendo, o que nem sempre corresponde necessariamente a um desenvolvimento, mas enfim parafraseando o apresentador Chico Pinheiro da Rede Globo, ”é vida que segue”, e para nossa desventura ser quase que absoluta, muitas vezes não nos damos conta de tudo o que nos cerca, do poder de transformação e melhoria que temos e por conseguinte não temos consciência disso. Mesmo porque depois do meio ambiente o principal beneficiário dessa conquista é o próprio ser “dito humano”, isso não é um paradoxo dos mais dolorosos para a nossa civilização?


No espectro micro da vida de um único indivíduo, do seu próprio corpo, ainda assim a ignorância e o desrespeito com as suas características e seus limites são espantosos, podem até ser considerados poderosos ataques intramuros que infelizmente tem o poder de causar uma tremenda destruição no referido ser. Logo é preciso que as pessoas passem a adotar um olhar mais atento aos fatos que as rodeiam, as circunstâncias e consequências que as mesmos podem assumir e a partir deles, aprender a absorver as boas lições possíveis, digo melhor, literalmente “tirar leite de pedra”, extrair bons ensinamentos não só dos bons momentos, mas também das situações ruins e desfavoráveis da vida.


Para o ser “humaninho diabético” ou para o portador de qualquer outra doença crônica, o exercício constante da busca pelo conhecimento é ainda mais importante e salutar, pois a todo momento, em tudo o que faz e principalmente em tudo o que ingere, ele deve fazer um bom uso desse manancial, de forma a lhe possibilitar uma melhor condição de se readequar as exigências e limitações da nova configuração de sua vida, a partir da doença, para o resto de sua vida. Logo a sabedoria do doente crônico é em síntese assumir sua condição precípua, respeitando as prescrições médicas e os seus limites e acima de tudo viver a vida intensamente, sem medo de ser feliz, afinal somos maiores e melhores do que a “PORRA” dessa doença, certo!



Rodolfo S Cerveira

sexta-feira, 7 de julho de 2017

A PERDA E A DESESPERANÇA



A dinâmica da vida muitas vezes nos prega algumas peças que nos deixam desconcertados. No último dia 06/07/2017 este mundo ficou bem mais triste, pois perdemos um ser iluminado, repleto de bons fluídos, que mesmo sem ter a devida noção da grandeza do objetivo que deu a sua própria vida, já que pouco estudo tinha, mas que aprendeu com a vida a desenvolver a sua capacidade de doação, junto com seu dom e carisma únicos, características essas que faziam dela um SER HUMANO muito especial, que sabia amar ao próximo como poucos. Que mesmo tendo tido uma vida muito dura, cheia de sofrimento, conseguiu superar as adversidades e ainda arranjou tempo, ou melhor, resolveu doar seu tempo de forma integral para ajudar outras pessoas. Hoje (07/07/2017) será o sepultamento daquela que em vida se chamou Maria do Socorro Pereira, mais conhecida pela carinhosa alcunha de TIA SOCORRO, a idealizadora e rigorosamente a alma do abrigo que fora batizado com o nome Associação Lar Acolhedor Tia Socorro, localizado na Ilha de Mosqueiro, Distrito de Belém do Pará. Abrigo este que tinha a missão precípua de receber crianças e adolescentes que haviam sofrido violência dentro de suas casas, no seio de suas próprias famílias, algo que na minha modesta opinião é uma das coisas mais abomináveis e repugnantes que o homem consegue fazer.

Não se trata de santificar alguém que acaba de nos deixar, mesmo porque esse não é o meu perfil, pois eu sempre tenho um olhar mais crítico, pragmático, focado no ser humano que é de carne e osso, com suas limitações, virtudes, medos e porque não dizer defeitos, e a “Tia Socorro”, essa era sim um ser literal, de carne e osso, é bem verdade que de mais carne do que osso, pois com a vida que levava, desprovida de preocupações menos altruístas e seu imenso apego e doação em prol do bem estar das suas crianças, pouco cuidado dedicava a sua própria saúde. Talvez essa seja uma das causas da sua prematura partida aos 53 anos de idade, vítima de um enfarte fulminante.

Minha convivência com essa mulher admirável, começou a pouco mais de 1 ano, época em que comecei em conjunto com minha esposa e filhas a frequentar o abrigo da Tia Socorro, com o objetivo de fazer um trabalho voluntário junto a pessoas necessitadas, de dividir com alguém um pouco do muito que Deus me deu. Lembro-me bem que a expectativa inicial era meio preocupante pois antes da primeira visita eu só vislumbrava um lugar onde haviam pessoas que tiveram uma vida muito difícil, que foram abandonadas a sua própria sorte, que sofreram inúmeras violências provindas quase sempre daqueles que via de regra poderiam e tinham o dever de protegê-los. Enfim pessoas que nada tinham e que ali estavam encontrando um novo caminho, um novo sentido para suas vidas, muitas vezes ainda no seu início. Na primeira vez que chegamos no abrigo fomos cercados por pessoas sedentas por um carinho, atenção, um simples abraço, e só então pude perceber que se tratava de uma troca muito rica e que no final das contas nós é que ganhávamos mais com o desenrolar do processo todo. E assim os domingos depois das visitas ao abrigo eram mais reluzentes, faziam mais sentido, me deixavam mais leve, apesar do cansaço da viagem e das histórias quase sempre escabrosas que algum novo ocupante do abrigo trouxe em sua bagagem.

Com a constância das idas ao abrigo pude perceber a quantidade de pessoas abnegadas que de alguma forma ajudavam o lugar, afinal a única renda fixa disponível era uma pequena aposentadoria da Tia Socorro, portanto o resto era advindo de doações, a maioria esporádica. Isso me deixava realmente agoniado, pois só vinha na minha mente, como alimentar e manter quase cinquenta pessoas, sem ter uma previsão de recursos para tal. Mas lembro bem que todas as vezes que a vi falar sobre o assunto ela dizia que o abrigo não era uma obra dela e sim uma obra de Deus e que ela tinha fé que ele nunca deixaria de prover o mínimo necessário para a subsistência de todos. Sua fé era realmente comovente, difícil de entender, mas fácil de ver.

O dia de ontem foi um dia muito difícil de ser vivido, pois o primeiro sentimento que surge é de uma certa revolta, de perguntar porque levar uma pessoa tão jovem, tão cheia de amor para dar, que tem tantas pessoas que dependem exclusivamente dela. Me atrevo a tentar responder, literalmente elocubrar, será que ela já estava precisando de um merecido descanso, e ainda será possível a ela descansar sabendo que deixou seus filhos aqui sem seus cuidados. Passei o dia com uma desesperança e uma preocupação com a resposta a essa e a outras questões; O que vai ser do abrigo? Quem vai tocar o barco? O que vai ser das crianças que lá estão? Como estarão aqueles seres humanos tão sofridos? Na verdade, foi uma verdadeira mistura de emoções muito sofridas.

Gostaria de terminar essa resenha fazendo uma pequena homenagem a esta mulher guerreira que tive a honra de conhecer, de privar de seu breve mais significativo convívio e que aprendi a admirar por sua força, garra, determinação e acima de tudo capacidade de amar ao próximo, enfim o que dizer de uma mãe de mais de 400 filhos espalhados pelo mundo. Vá em PAZ e que Deus continue te iluminando onde estiveres.


Rodolfo S Cerveira