quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

A INCAPACIDADE DO SER HUMANO DE SE COLOCAR NO LUGAR DO OUTRO


Em um post anterior deste blog, lembro de ter falado sobre a extrema solidão de um doente crônico, pois de fato ninguém consegue se colocar no lugar dele, ninguém consegue dimensionar a sua DOR, a sua desilusão pela sua incapacidade de manter o tratamento sempre em um nível desejável, enfim da dificuldade das demais pessoas de experimentar esse universo tão particular e solitário.


Na semana passada participei de um curso sobre ACESSIBILIDADE, em que no último dia foi feito um exercício de vivência, ou seja, algumas pessoas experimentaram mesmo que por alguns momentos estar em uma cadeira de rodas ou estar com uma venda nos olhos e ter que fazer uso de uma bengala para se locomover, a sensação é indescritível e assustadora, mas também é muito enriquecedora, pois é possível sentir na pele as agruras e dificuldades das pessoas que permanentemente convivem com essas limitações em seu dia a dia, mesmo que por alguns “míseros” minutos, mas ainda assim é inteiramente impossível nos colocarmos verdadeiramente no lugar dessas pessoas.


Por outro lado, seria muito bom para nós mesmos e também para o conjunto da sociedade se nós aprendêssemos a mudar o nosso referencial, ou seja, se procurássemos pensar que a situação das mencionadas pessoas requer providências especiais realmente, senão vejamos, quem é que não ficou chateado e mesmo tentado a usar uma vaga de estacionamento exclusiva para cadeirante e ou idoso, depois de ficar vários minutos procurando uma vaga mais próxima ao destino desejado. Quem em um momento de extrema “aporrinhação” já não chegou a pensar que talvez esse privilégio seja exagerado. Mesmo porque esses direitos adquiridos por essas pessoas são muito justos, entretanto eles não excluem o direito dos demais. Logo se mesmo hipoteticamente “conseguíssemos estar” no lugar dessas pessoas, nos seria possível perceber mais facilmente que a vaga deles deve ser a mais próxima, SIM, porque é extremamente necessário que assim o seja, afinal só dessa forma eles demandarão um menor esforço físico para chegar ao seu destino, sem falar das dificuldades que não só eles, mas todos nós temos que superar face a extrema incapacidade do poder público e também da sociedade de pensar seus espaços para serem mais acessíveis a todos, não só para os deficientes físicos, visuais e intelectuais e demais pessoas portadoras de qualquer perda de mobilidade. Afinal as cidades brasileiras são pródigas em apresentar problemas de toda ordem à livre locomoção das pessoas, tais como, calçadas sem piso tátil, pistas de rolamento e calçadas mal traçadas, esburacadas e sem manutenção, escolha de pisos inadequados, falta de sinalização e adequação de ruas e meio fio, só para citar alguns exemplos desse completo despreparo, apesar das inúmeras leis que já foram criadas para tentar minorar esse problema, muito pouco avanço de fato pode ser constatado nessa área.


Eu acredito que a nossa principal carência não é de leis e sim de educação, de cultura, de solidariedade, de realmente colocar em prática o chamado “amor ao próximo”, esteja este próximo ou não. E nesse caso seria muito benéfico para cada um de nós e principalmente para a sociedade, se fizéssemos um exercício de tentar olhar o mundo e as coisas sob a ótica do deficiente físico, de forma a entender as suas dificuldades mais precípuas, digo melhor, quando você se deparar com um problema de locomoção ou mesmo de qualquer outra natureza, procure não olhar para o fato somente com a ótica das pessoas “ditas normais”, (desculpem o uso do termo, mas foi proposital, pois quem foi que disse que o deficiente físico não e normal? Ele apenas tem uma deficiência específica, que apesar de limitar algum sentido ou movimento, não o torna incapaz. E é isso que precisa realmente ser mudado). Assim sendo procure analisar a situação com uma visão macro, objetivando alcançar o verdadeiro grupo de pessoas que irá fazer uso do mencionado equipamento, isto é, aquele em que todos nós, sem distinção, somos parte integrante.


Fazendo uma breve analogia entre a situação do deficiente físico com a do doente crônico, no caso deste blog em que o foco é o diabético, pois ambas as categorias merecem e carecem de uma melhor atenção da sociedade e do Estado, no sentido de pensar e de prover os espaços e equipamentos públicos e privados de mecanismos e soluções capazes de minorar o sofrimento dessas pessoas, e assim otimizar não só as suas vidas, mas também a de todos os integrantes da sociedade, tornando-a verdadeiramente mais igualitária. Dessa forma é fundamental que os mencionados entes passem a desenvolver políticas e ações direcionadas a melhoria do espectro de vida desse grupo de pessoas cada vez mais numeroso e significativo.



Rodolfo S Cerveira

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