Em um post anterior deste
blog, lembro de ter falado sobre a extrema solidão de um doente crônico, pois
de fato ninguém consegue se colocar no lugar dele, ninguém consegue dimensionar
a sua DOR, a sua desilusão pela sua incapacidade de manter o tratamento sempre
em um nível desejável, enfim da dificuldade das demais pessoas de experimentar
esse universo tão particular e solitário.
Na semana passada participei
de um curso sobre ACESSIBILIDADE, em que no último dia foi feito um exercício
de vivência, ou seja, algumas pessoas experimentaram mesmo que por alguns
momentos estar em uma cadeira de rodas ou estar com uma venda nos olhos e ter
que fazer uso de uma bengala para se locomover, a sensação é indescritível e
assustadora, mas também é muito enriquecedora, pois é possível sentir na pele
as agruras e dificuldades das pessoas que permanentemente convivem com essas
limitações em seu dia a dia, mesmo que por alguns “míseros” minutos, mas ainda
assim é inteiramente impossível nos colocarmos verdadeiramente no lugar dessas
pessoas.
Por outro lado, seria muito bom
para nós mesmos e também para o conjunto da sociedade se nós aprendêssemos a
mudar o nosso referencial, ou seja, se procurássemos pensar que a situação das
mencionadas pessoas requer providências especiais realmente, senão vejamos,
quem é que não ficou chateado e mesmo tentado a usar uma vaga de estacionamento
exclusiva para cadeirante e ou idoso, depois de ficar vários minutos procurando
uma vaga mais próxima ao destino desejado. Quem em um momento de extrema
“aporrinhação” já não chegou a pensar que talvez esse privilégio seja exagerado.
Mesmo porque esses direitos adquiridos por essas pessoas são muito justos,
entretanto eles não excluem o direito dos demais. Logo se mesmo hipoteticamente
“conseguíssemos estar” no lugar dessas pessoas, nos seria possível perceber mais
facilmente que a vaga deles deve ser a mais próxima, SIM, porque é extremamente
necessário que assim o seja, afinal só dessa forma eles demandarão um menor
esforço físico para chegar ao seu destino, sem falar das dificuldades que não
só eles, mas todos nós temos que superar face a extrema incapacidade do poder
público e também da sociedade de pensar seus espaços para serem mais acessíveis
a todos, não só para os deficientes físicos, visuais e intelectuais e demais
pessoas portadoras de qualquer perda de mobilidade. Afinal as cidades
brasileiras são pródigas em apresentar problemas de toda ordem à livre
locomoção das pessoas, tais como, calçadas sem piso tátil, pistas de rolamento
e calçadas mal traçadas, esburacadas e sem manutenção, escolha de pisos
inadequados, falta de sinalização e adequação de ruas e meio fio, só para citar
alguns exemplos desse completo despreparo, apesar das inúmeras leis que já
foram criadas para tentar minorar esse problema, muito pouco avanço de fato pode
ser constatado nessa área.
Eu acredito que a nossa
principal carência não é de leis e sim de educação, de cultura, de solidariedade,
de realmente colocar em prática o chamado “amor ao próximo”, esteja este
próximo ou não. E nesse caso seria muito benéfico para cada um de nós e principalmente
para a sociedade, se fizéssemos um exercício de tentar olhar o mundo e as
coisas sob a ótica do deficiente físico, de forma a entender as suas
dificuldades mais precípuas, digo melhor, quando você se deparar com um
problema de locomoção ou mesmo de qualquer outra natureza, procure não olhar
para o fato somente com a ótica das pessoas “ditas normais”, (desculpem o uso
do termo, mas foi proposital, pois quem foi que disse que o deficiente físico
não e normal? Ele apenas tem uma deficiência específica, que apesar de limitar algum
sentido ou movimento, não o torna incapaz. E é isso que precisa realmente ser mudado).
Assim sendo procure analisar a situação com uma visão macro, objetivando
alcançar o verdadeiro grupo de pessoas que irá fazer uso do mencionado
equipamento, isto é, aquele em que todos nós, sem distinção, somos parte
integrante.
Fazendo uma breve analogia
entre a situação do deficiente físico com a do doente crônico, no caso deste
blog em que o foco é o diabético, pois ambas as
categorias merecem e carecem de uma melhor atenção da sociedade e do Estado, no
sentido de pensar e de prover os espaços e equipamentos públicos e privados de
mecanismos e soluções capazes de minorar o sofrimento dessas pessoas, e assim
otimizar não só as suas vidas, mas também a de todos os integrantes da
sociedade, tornando-a verdadeiramente mais igualitária. Dessa forma é
fundamental que os mencionados entes passem a desenvolver políticas e ações
direcionadas a melhoria do espectro de vida desse grupo de pessoas cada vez
mais numeroso e significativo.
Rodolfo S Cerveira
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