segunda-feira, 23 de março de 2020

EM TEMPOS DE QUARENTENA – COVID-19



Em tempos de quarentena face o surgimento do covid-19, em que estamos reclusos em nossas casas, com nossas mentes fervilhando face às más notícias que recebemos via “grande mídia” a cerca das perspectivas para o presente e ainda mais importante para o futuro próximo, não só dos problemas imediatos referentes a saúde, mas principalmente das consequências econômicas nefastas que essa crise pode causar para o país e para o mundo, que de fato são imprevisíveis e apavorantes.

Então não é fácil, nesse momento, manter a calma, a tranquilidade, mas é fundamental não entrar em DESESPERO, PÂNICO, nem muito menos fomentá-lo, para que ele não se instale definitivamente entre nós. Entretanto essa atitude é comumente exercida por algumas pessoas, consciente ou inconscientemente, principalmente via WhatsApp. Essa ferramenta maravilhosa, que foi criada para promover a reunião e o congraçamento entre as pessoas, mas como tudo na vida, muitas vezes tem a sua utilização desvirtuada e acaba provocando grandes transtornos e até mesmo grandes tragédias. Neste sentido é primordial que façamos um hercúleo exercício de não ficar a todo momento nos atualizando das notícias sobre a PANDEMIA via whatsApp, procure usar o aplicativo para diminuir a distância que estamos sendo forçados a manter das pessoas que queremos bem. E principalmente não repasse informações sem a devida análise e conferência de autenticidade, não ajude a fortalecer essa corrente do mal, que infelizmente acaba se formando com a proliferação das conhecidas fake News (mentiras – na nossa bela língua). Eu particularmente adotei a premissa de me atualizar sobre os dados da crise somente em dois momentos do dia, no início da manhã e no final do dia, sempre através das informações provindas dos órgãos oficiais, e não vejo absolutamente nada sobre o assunto no “ZAP”, acho absolutamente desnecessário. Em alguns grupos em que já identifiquei pessoas altamente apavoradas, quase em pânico, já nem abro as mensagens que delas são originadas. Nesses casos procuro retornar informações que possam de alguma forma agregar coisas boas para elas.

Perceba que o ser humano é muito estranho, muito complexo, senão como explicar que mesmo dentro de grupos de pessoas que tem estudo formal considerável e algumas vezes são comprovadamente bem informadas, há aquelas que se deixam contaminar por informações completamente sem sentido, já que se o leitor se der ao trabalho de ler a referida informação, uma segunda e uma terceira vez e em seguida refletir rapidamente sobre ela, no mínimo ele vai desconfiar da inconsistência da mesma, pois a lógica ou talvez outros aspectos que compõem a sua noção de razoabilidade vão fazer com que ele não prossiga com a disseminação daquela informação mentirosa e extremamente danosa a sociedade. Por outro lado é muito fácil entender como a população com menor nível de instrução, que para o nosso azar é a esmagadora maioria no Brasil, é ainda mais vulnerável ao pânico, ao se ver diante de tais informações maléficas e não ser capaz de discernir sobre sua veracidade e nesse caso o dano é aumentado em projeção geométrica, infelizmente.

Há ainda um outro fator que me preocupa muito, que é o fato do ser humano em sua essência ser extremamente egocêntrico e egoísta, e vejam não me refiro especificamente “às bestas radicais” que se dizem de esquerda e de direita que continuam a se digladiar nas redes sociais e até mesmo pessoalmente, e sim as demais pessoas que nem nestes momentos de crise extrema conseguem agir digamos “fora da caixa”. Falo especificamente do caso de alguns funcionários públicos que ouvi esbravejarem que o governo tem que parar tudo, inclusive os transportes públicos. Mas eles esquecem que se esse seguimento parar, como é que as pessoas que trabalham nos serviços essenciais como hospitais, clinicas, farmácias, supermercados, delegacias de polícia, presídios, órgãos públicos envolvidos na gestão da crise e etc..., que em sua maioria não possuem transporte próprio, vão fazer para chegar aos seus locais de trabalho para atender a todos que precisem, inclusive a esses que falaram tal asneira, caso necessitem de atendimento médico hospitalar, ou simplesmente necessitem repor seus mantimentos. 

Talvez esse comportamento seja amparado pela fantasiosa segurança que eles tem em relação a garantia do recebimento de seus salários, o que os trabalhadores da inciativa privada e os autônomos não tem. Porém eles estão esquecendo que se a economia parar de fato, no máximo no terceiro ou quarto mês, dependendo da saúde financeira do ente federado (Governo Federal, Estado ou Município), a arrecadação estará de tal forma comprometida, pois estará sendo alimentada apenas pelas empresas que tem autorização especial para funcionar, assim como daquelas que podem fazer o chamado “trabalho em casa”, a venda pela internet ou o serviço de venda por entrega domiciliar (o delivery), mantendo assim algum faturamento, sem entretanto ser o bastante para manter a máquina do governo (o patrão dos funcionários públicos), em funcionamento sustentável a ponto de ter como honrar os salários dos seu servidores. Preciso ressaltar que eu também sou funcionário público há 34 anos, e no meu caso em particular estou duplamente preocupado, pois como não faço parte da pequena casta que ganha bons salários no serviço público, portanto sempre precisei e ainda hoje preciso complementar minha renda com uma atividade autônoma, que a princípio está com sua rentabilidade altamente comprometida, como muitas outras no nosso país em época de PANDEMIA.

Para finalizar essa breve resenha, devo externar a minha enorme indignação com o fato ocorrido na última semana. Tenho 56 anos de idade, ou seja, menos de 65 anos, porém na condição de diabético há mais de 7, 8 anos, sei lá ao certo, e apesar de estar gozando de boa saúde, graças ao bom Deus, pois estou medicado e com índices glicêmicos controlados, já que mantenho um acompanhamento médico regular, desde a descoberta desse inferno (DIABÉTES). Fui informado pela minha chefia que eu estava dispensado do trabalho por integrar um dos grupo de risco, em função da referida doença. Logo eu teria que providenciar um atestado ou laudo médico para enfim formalizar a minha dispensa do trabalho. Devo ressaltar que antes que eu pudesse solicitar tal dispensa ela me foi imposta pela instituição, fato que eu devo louvar, é claro. Mas voltando ao motivo real da minha contrariedade, ao ligar para a clínica onde sou atendido por uma médica endocrilogista há mais de 7 anos, ou seja, uma profissional que tem o meu histórico de tratamento, que pode acima de qualquer suspeita, atestar a existência da minha doença crônica, que infelizmente não tem cura. Queria EU não ter esse “privilégio” e estar trabalhando normalmente. Entretanto ao falar com a secretaria recebo a informação de que tenho que ir a clínica, pois a direção da mesma orientou seus médicos a só fornecer atestados e laudos na presença do paciente. Situação que me pareceu absolutamente irracional, sem nenhuma lógica, pois na minha “santíssima ignorância”, esse procedimento deveria ser rápido e sem a exigência da presença do paciente, pois trata-se da simples comprovação da existência da moléstia, e o documento poderia ser entregue a um portador do doente na própria secretaria da clínica, pois o mesmo só vai respaldar uma realidade que é facilmente comprovada no histórico de cada paciente, ou seja, que o mesmo é, infelizmente, portador da referida doença crônica, que não tem cura.

Devo ressaltar que, fui informado na minha última consulta com a mencionada médica, que já existe uma possibilidade de cura, ou “quase cura”, se é que essa afirmação pode ser considerada cientifica, trata-se de uma cirurgia bariátrica, para promover alterações no funcionamento do organismo do diabético, praticamente eliminando o controle via remédios. Mas isso é uma outra história, afinal é um processo muito agressivo e perigoso, e na minha modesta opinião, ainda esta em um estágio inicial, e até o momento não produziu grandes resultados práticos, portanto a priori não tem cura mesmo.

Além do mais se levarmos em consideração que a recomendação das secretarias de saúde pública em todos os níveis de governo é que as pessoas dos grupos considerados mais vulneráveis não saiam de casa, nem muito menos se dirijam a clinicas e hospitais sem haver a extrema necessidade, não tem sentido esse tipo de postura, certo? Resumindo dá pra entender uma MERDA dessas?


Rodolfo S Cerveira

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

O FINAL DE ANO – O REVEILLON




Eis que chegamos a mais um Final de Ano, a mais um Reveillon. Sim a esta celebração tão difundida e exaustivamente comemorada mundo a fora. O primeiro povo a celebrar a festa da passagem do ano, teria sido o da Mesopotâmia, área que corresponde hoje a os territórios do Iraque, Kuwait, Síria e Turquia. Como eram povos que dependiam inteiramente da agricultura para sobreviver, eles celebravam o fim do inverno e o início da primavera, época que se iniciava a nova safra. Com isso, a festa de passagem dos mesopotâmicos não se dava na noite de 31 de dezembro, mas sim na noite dia 22 de março, data do início da primavera no Hemisfério Norte. Historicamente há diversos registros do que seria o pretenso começo da comemoração do ano novo ocidental, mas alguns historiadores apregoam a um decreto do imperador romano Júlio César, a fixação do 1º de janeiro como o “dia do ano novo” em 46 a. C. Outros dizem que foi a partir de 1582 – quando o calendário gregoriano passou a vigorar, adotado pelo papa Gregório 13 no lugar do calendário Juliano, que o primeiro dia do ano passou a ser o 1° de janeiro. Enfim não é o objetivo desta mensagem uma discussão histórica a respeito, por isso vou me ater ao termo especificamente. Réveillon que vem do termo francês réveiller, termo que surgiu no século 17, que significa “acordar”, logo foi feita uma analogia com a expressão - é o “despertar do ano” - e acabou pegando e foi popularizado mundo afora.

Minha relação com a festa do Reveillon, não é muito amistosa, talvez porque na minha lembrança sempre ficou mais latente o lado profano da data, ou seja, as festas propriamente ditas que quase sempre são regadas à muita comida e bebida, onde são cometidos exageros de toda ordem em nome da alegria, mas que algumas vezes acabam em situações indesejáveis, já que muitos acidentes e desastres historicamente acabam manchando a data.

Por outro lado o final de um ano e o consequente nascimento de um novo, assume um caráter sublime, em certo sentido até mágico, porque simboliza a possibilidade de uma nova chance, de um novo olhar e pensar sobre novas e velhas questões, da esperança de que poderemos SER e FAZER melhor, de conseguirmos de fato nos desenvolver como seres humanos, afinal não seria essa a verdadeira ESSÊNCIA do desabrochar de um novo ano.

Para nós DIABÉTICOS, não nos é dado o direito a relaxar e “cair” na tentação da comilança que a data normalmente nos propícia, logo só nos resta diminuir o prejuízo, ou seja, excessos menores proporcionam danos menores. É algo para se pensar, refletir e lembrar sempre, vcs não acham?

Um MARAVILHOSO 2020 pra todos, com muita Paz, Saúde, Amor e principalmente muita Sabedoria para viver intensamente o novo ano.

Rodolfo S Cerveira

terça-feira, 25 de junho de 2019

DOCE ILUSÃO

Há pouco mais de 8 anos, se minha memória não me trair, época em que recebi o diagnóstico de “estar diabético ou ser um diabético, enfim de que essa desgraça faria parte da minha vida, enquanto ela existisse”. Comecei uma trajetória que é bem própria da maioria das pessoas que recebem esse tipo de notícia, mudei hábitos alimentares, perdi peso rapidamente, adotei uma rotina de exercícios regulares e adicionei a minha existência o GLIFAGE. De certo que isso tudo resultou em quase dez quilos a menos, as taxas voltaram a patamares aceitáveis, principalmente a GLICOSE, e a vida ia caminhando sem maiores solavancos, assim eu achava!


Com a experiência adquirida em anos de pretensas bem e mal sucedidas inciativas de perda e controle de peso anteriores ao diagnóstico, eu já tinha plena consciência de que é absolutamente impossível viver sob um regime severo de controle absoluto de hábitos alimentares e atividades físicas indefinidamente, principalmente para mim que fui gordo na pré-adolescência e como já disse em outro post desse blog, tenho a cabeça de gordo, ou seja, penso em comida mesmo quando estou saciado e necessariamente sem fome, pois o ato de comer e curtir o sabor do alimento é verdadeiramente inebriante. A consequência disso é que com o passar do tempo há um relaxamento natural, e não dá pra negar, bem gostoso, onde você se dá o desfrute de comer um chocolate, tomar um refrigerante, comer um bolo, um doce, abusar um pouco no arroz, no feijão, no macarrão, que mesmo de vez em quando vai te fazendo um mal absurdo, mas como eu conseguia reverter a situação, digo melhor, baixar a minha glicose rapidamente, a "SEM-VERGONHICE ALIMENTAR, ia avançando e literalmente “me fudendo”.

Mesmo tendo em mente que desde o primeiro momento o médico me alertou que tais atitudes poderiam levar a danos irreparáveis, ou seja, o diabetes pode causar danos irreversíveis de toda ordem além dos mais danosos e conhecidos, relativos a problemas de visão, perda de órgãos amputados, problemas de desempenho sexual, que são os verdadeiros traumas já consagrados na sabedoria popular. Mas o que posso dizer é que para um bom comedor como eu, um verdadeiro glutão, há sempre uma dose de questionamento acerca do que é mais relevante, os prazeres da carne, da vida ou a melhor qualidade e ou quantidade de vida. Pode parecer um questionamento infrutífero, sem nenhum sentido, em que a resposta parece óbvia, mas de fato é algo que preexiste a nossa condição de seres pensantes.

O tempo foi passando e veio o aumento da dosagem do GLIFAGE (de um para dois e de dois para três, até chegar nos quatro comprimidos diários que passei a tomar desde a última ida ao endocrinologista), a adição do JARDIANCE e por último a ASTORVASTATINA CÁLCICA, e não tenho como contestar que minha capacidade de baixar a taxa de glicose foi drasticamente diminuída. Basicamente isso transmite a seguinte mensagem, cada vez que eu fizer alguma “merda”, leia-se sair da linha, do controle alimentar, poderei acarretar um dano muito mais sério ao meu organismo, e o que é ainda pior, poderá ser irreversível. Pois esse é em tese o desenvolvimento natural dessa praga chamada diabetes.

Aproveitei a consulta para fazer alguns questionamentos a minha médica, principalmente sobre a hipótese de que se eu conseguisse engrenar na minha atividade física, perdesse o excesso de peso e enfim fizesse uma dieta mais indicada a minha condição de doente crônico - fato este que felizmente já comecei desde o dia 23 de maio último e que espero manter indefinidamente - enfim se diante desse quadro eu poderia diminuir e ou eliminar algum remédio que tomo diariamente. A resposta foi desalentadora e devastadora para minha autoestima, e vou repassar na íntegra a seguir; “mesmo que você se torne um atleta de altíssimo nível, atinja o peso ideal, mantenha um controle alimentício 100% eficaz, ainda assim não seria garantia de eliminar um ou mais remédios, pois iria depender enormemente da reação do seu organismo a esse processo, e ainda afirmou que a hipótese mais eficaz para que eu me livre do uso de remédios é uma cirurgia bariátrica para “CURAR” o diabetes, bastante utilizada e que tem apresentado excelentes resultados, pelo menos no curto prazo, de cinco a dez anos”. Devo admitir que a ideia de cirurgia não me agrada nenhum pouco, mas como diz o ditado, “o futuro a Deus pertence”.

Rodolfo S Cerveira

sexta-feira, 14 de junho de 2019

O SONO BOM DE CADA DIA



Há uma certa crença popular que apregoa que os seres humanos só dão valor a muitas coisas que tem, principalmente as mais simples e comezinhas, a partir do momento em que as perdem, digo melhor, em certo sentido nós somos indivíduos muito acomodados e lenientes em relação as grandes benesses que nos foram concedidas desde o nosso nascimento e até mesmo àquelas que foram naturalmente agregadas no transcorrer de nossas existências. Na verdade, estou me referindo genericamente a vários aspectos da vida, tais como; nossos sentidos e percepções, o ar que respiramos, ao fato de afortunadamente estarmos saudáveis e sem dor, enfim a tudo que sentimos e usufruímos, e que muitas vezes não nos damos conta da sua devida importância.

Na presente resenha vou concentrar o foco no chamado SONO BOM, naquela faculdade maravilhosa de se desligar temporariamente de tudo, gozar de um merecido descanso e enfim retornar a velha rotina renovado. Pra você parece a definição de que? Especificamente? De um maná dos Deuses, de uma simples e boa noite ou mesmo de período significativo de sono reparador, ou de uma interminável noite sem conseguir dormir. Acredito que existem respostas das mais variadas para essa pergunta tão simples e banal, com causas e efeitos mais ou menos danosos a saúde e ao bem estar de cada um, afinal quem pode prescindir do bom sono?

A ciência afirma que são necessárias 8 horas de sono diárias em média para se manter uma boa saúde física e psíquica. Eu particularmente nunca dormi mais que 6 horas diárias, de certo que estou fazendo essa afirmação considerando o período que me lembro bem, a partir dos meus 6, 7 anos. A minha adolescência foi o melhor período de sono que já tive na vida, com certeza em consequência da minha intensa atividade esportiva de aproximados 2 horas diárias, como atleta de judô, depois como nadador e por último com as 3 a 4 horas diárias como jogador de voleibol, que perduraram até os 20 anos. Foi uma época memorável no quesito sono, pois eu literalmente deitava, mal terminava de fazer as minhas breves orações e literalmente “morria”, de tão pesado que era o sono, e renascia no dia seguinte, basta dizer que quase nunca eu lembrava de algum sonho. Algumas lembranças esparsas eram tão vagas que eu tinha dúvida de sua origem, seriam advindas de um sonho?

O tempo foi passando, me formei aos 21 anos, o foco da minha vida mudou sensivelmente, novas preocupações foram agregadas, casei aos 24 anos, aos 32 veio a primogênita, dois anos e três meses depois a segunda filha, o cerco das responsabilidades e preocupações foi se fechando e o sono já não tinha tamanha qualidade, nem mesmo igual quantidade, pois passei a dormir em média de 4,5 a 5 horas diárias. Depois dos 40 anos a descoberta da fatídica e incontestável hérnia de disco lombar, que segundo o meu médico em função de seu tamanho teria que receber um tratamento digno e sério para evitar muito sofrimento futuro (dor). Adeus a dormida de bruços, tão apreciada outrora, pois cinco minutos era o bastante para causar um incômodo terrível. De peito pra cima acabou perdendo o seu digamos “selo de validade”, explico melhor, deixou de ser uma posição bastante confortável, causando problemas depois de 15, 20 minutos. Logo só sobrou a chamada dormida de lado, com o famoso travesseiro entre as pernas. Resolveu? Não porque depois de um tempo na referida posição o peso do corpo começa a provocar dor no ombro e nos braços, resultando em uma intensa troca de posição durante boa parte da noite, o que ocasionou uma queda drástica da qualidade do sono, pois fica difícil nessas condições atingir o estágio de sono mais profundo. Há ainda um outro fator a considerar, as dores no corpo (ombros e mesmo na lombar, provocados pela hérnia de disco), diminuem a possibilidade de me manter deitado por mais tempo, portanto muitas vezes acordo mais cedo por causa da dor no corpo.

Alguns anos depois eis que se apresenta a desgraça chamada de diabetes, ai meu camarada, me perdoe o termo, “fudeu tudo”, pois além das limitações advindas da hérnia de disco e das inúmeras complicações que esta dita patologia pode causar na saúde de um ser humano, fui obrigado a passar a ingerir medicamentos que acabaram provocando um outro fator de depreciação da qualidade do meu sono, que é a necessidade de levantar pelo menos uma vez por noite para fazer xixi. Logo eu que nunca precisei fazer isso na minha vida pregressa inteira. Que merda!

Só para completar esse relato que acreditem ou não, não é um calvário, é a singela  realidade dos fatos, devo dizer que passei a acordar em algumas noites 3, 4 horas da madrugada, achando que ia ter um infarto ou coisa parecida, suando frio, com batimentos cardíacos acelerados, sem conseguir respirar e muito menos conseguir dormir depois do mencionado evento. Eis que chego ao diagnóstico de “síndrome do pânico”, mais uma MERDA para perturbar o meu tão almejado bom sono. De fato comecei a lembrar de alguns episódios esparsos na minha vida inteira, desde a infância, e conclui que a referida síndrome sempre esteve presente, eu só não tinha consciência disso. E reconhecer esses fatos foi fundamental para que eu continuasse mantendo ela no seu lugar, sem causar enormes transtornos e se Deus me ajudar espero não precisar recorrer a um médico para tanto.

Em outro post farei outros relatos acerca da síndrome do pânico, afinal aqui é um blog de um diabético que tem essa “porra” de síndrome também, fazer o quê?


Rodolfo S Cerveira

sexta-feira, 31 de maio de 2019

AMIZADE E IRMANDADE




Nesta semana perdi um querido amigo diante dos seus 51 anos de vida, literalmente na chamada “flor da idade”, para o câncer de intestino e estômago. Apesar de no meu subconsciente essa possibilidade nunca pôde ser descartada, pois tratava-se de uma enfermidade muito agressiva, em um lugar naturalmente de pouca expectativa de cura, e considerando o remédio indicado, a quimioterapia, que é igualmente invasivo e avassalador, a minha zona de consciência era povoada por um pensamento de que era preciso ter esperança de que o quadro pudesse ser revertido. Acredito que só a força do amor a vida que ele sempre demonstrou e a forte crença no milagre da cura dos seus parentes e amigos é que teimava em não encarar o quadro que se apresentava tão dramático.

Voltando um pouco no tempo, lembro de como se deu o nosso encontro. Na verdade, eu trabalhei durante quase quatro anos na mesma instituição com um irmão de sangue dele, e não fazia ideia desse pretenso parentesco. Nessa época minhas filhas eram pequenas e eu ia buscá-las no colégio todos os dias, coisa que ele também fazia diariamente para também buscar as suas duas herdeiras, e repetidas vezes o vi na frente do referido colégio e não podia deixar de notar sua enorme semelhança física com o meu amigo de trabalho, e isso me deixava intrigado. Enfim o tempo foi passando e um belo dia minha esposa me informou que a minha filha mais nova tinha um aniversário de uma colega de turma em uma lanchonete. Quando chegamos para buscá-la notei que a colega era justamente a filha daquele que eu sempre via e achava parecido com o meu companheiro de “trampo”, que não por acaso estava por lá também, o que levou-me a pensar que de fato se tratava de dois irmãos de sangue, o que pude comprovar naquele mesmo dia.

Como colegas de turma nossas filhas foram se aproximando e não demorou muito para que fossemos formalmente apresentados e a partir daí florescesse uma amizade muito intensa, para ser bem sincero, acredito que foi um verdadeiro encontro de almas afins, algo muito raro de acontecer, pelo menos nos meus 55 anos de existência não consigo reportar ter vivido mais de dois outros casos semelhantes, porém com toda a certeza em nenhum deles o sentimento de irmandade alcançou tamanha relevância, tão característica da presente experiência aqui descrita. A diferença sanguínea, de pensamento e de personalidades bem distintos, jamais foi um empecilho para o estreitamento da relação, que desde o início foi pautado pelo respeito e pelo apreço de um pelo outro. Durante mais de 10 anos essa amizade foi se fortalecendo, contando sempre com muito companheirismo e uma convivência muito prazerosa, fazendo com que o laço que nos unia se tornasse ainda mais forte.

Em pouco mais de um ano e meio, aquilo que começou com uma suspeita de ser um problema de refluxo, que o fez perder mais de 20 quilos e que chegou ao diagnóstico fatídico de câncer no intestino e estômago. Fez de seus últimos 45 dias de vida, período em que esteve internado em um hospital, um verdadeiro inferno austral, pois passou boa parte do tempo sedado, sem conseguir se alimentar, literalmente mantido vivo por suprimentos alimentares e soro, em função das intensas dores a que era acometido. O que ocasionou ainda mais perda de peso corporal, levando a sua morte no último dia 27/05/2019.  

Se nós seres humanos, conseguíssemos nos desnudar de nosso extremo egoísmo, conseguiríamos minimamente ser confortados com a certeza de que seu sofrimento atroz enfim acabou, e não estaríamos tão abalados e consternados com sua partida tão prematura, afinal não poderemos mais gozar de sua presença entre nós.  Espero sinceramente que um dia “oxalá” consigamos atingir esse estágio de evolução.

Só me resta desejar ao meu querido amigo e irmão, onde quer que esteja, muita paz e conforto no seu coração reconhecidamente tão grande, onde havia lugar para todos os que viessem ao seu encontro. Vá em paz amigo.

Rodolfo S Cerveira

sexta-feira, 24 de maio de 2019

UM BREVE ADEUS



A sensação de pertencimento é algo muito próprio do ser humano, faz parte de sua essência, mesmo que alguns tentem negar essa digamos “verdade absoluta”, se é que podemos efetivamente assim denominar. Ainda assim há uma série de conflitos e incongruências que precisam ser devidamente equacionados no sentido de possibilitar uma convivência relativamente harmônica entre os diversos “tipos de seres humanos”, que habitam nesse nosso plano. E só para reforçar essa ideia e corroborando com a máxima que diz que “ninguém é uma ilha’, o ser humano pode ser definido como um animal essencialmente social, que necessita viver na companhia de seus pares.

O momento do ADEUS, da partida, àquela hora em que você precisa dissociar-se da presença física de um desses seres humanos, “UNO”, verdadeiramente especial, aquele que se fez presente e relevante em sua vida, seja por suas ideias, seja por suas ações e posturas ou ainda pela sua maneira singular de ver e viver a vida. Enfim a dor de perder uma pessoa que tamanha representatividade tem e sempre terá na sua agora ainda mais ingreme caminhada, é desalentadora, mas de fato é algo que precisa ter o seu seguimento, seguir o seu curso, que por menos natural que possa parecer, é aquilo que não só os outros, mas acima de tudo você, espera de si mesmo.

Independente da religião, da crença ou da filosofia que cada um de nós esta intimamente ligado, reaprender a viver com a perda de alguém, com a ausência extremada, afinal não haverá uma segunda chance, é um processo doloroso e traumático e que requer uma extrema dedicação no sentido de nos readaptarmos ao universo do qual fazemos parte, refazendo nossos passos e redimensionando nossas metas, reconstruindo a teia inicial daquilo que nós temos de mais primitivo e genuíno.

De fato esse acontecimento tem reflexos em todos as áreas da nossa vida, mas em especial a nossa saúde física e psíquica é sem sombra de dúvidas, o ponto nevrálgico da questão. A forma como corpo e mente respondem a esses súbitos ataques externos é surpreendente sempre, sob todos os aspectos, ou seja, a forma como reagimos e nos posicionamos em relação ao ADEUS é um fator preponderante para a manutenção e ou preservação de nossa saúde em geral.

Como estamos falando de saúde, o meu companheiro inseparável e indesejável, o diabetes, não poderia ficar de fora, pois ele se faz sempre presente em todas as manifestações do meu corpo e da minha mente, queira eu ou não, goste eu ou não. Logo a maneira como eu vou lidar com o ADEUS também é um fator determinante da minha glicemia, que por sua vez é determinante para o bom andamento da minha visão, para o mais apropriado crescimento da minha próstata, enfim pra tudo quanto é “PORRA” nessa minha vida de diabético.

Eu não poderia terminar esta resenha sem fazer uma menção a “um breve adeus” a um querido amigo que se foi há poucos meses, com apenas 50 anos, que era diabético, que em função disso se fragilizou diante de outras doenças oportunistas, que fez escolhas bem diversas das minhas, mas que acima de tudo sempre respeitou as minhas escolhas, assim como eu respeitava as suas, o que acabou por nos tornar dois bons amigos. Que sempre viveu intensamente e desregradamente, sem nunca ter adotado nenhum cuidado ou restrição de qualquer natureza, em prol da preservação de sua saúde, muito pelo contrário cometeu os maiores desatinos alimentícios e comportamentais que se possa imaginar, principalmente quando lembramos de sua condição (diabético), e que por tudo isso acabou pagando um preço muito alto, nos deixando de forma tão prematura. Mas nunca durante toda a sua existência, da qual tive o prazer de privar, deixou transparecer a ninguém algum sentimento menor, seja de desrespeito aos seus pares, de falta de empatia, de apreço a dogmas e conceitos muito discutíveis, de ideias preconceituosas. Na realidade a mim parecia que a única lei a que ele se rendia era aquela que prega um imenso amor a vida acima de tudo e de todos, o chamado viver bem a vida, com a maior intensidade possível, não importando as consequências disso. Fique em paz meu amigo!

Rodolfo S Cerveira

terça-feira, 11 de setembro de 2018

SOMOS ESSENCIALMENTE EGOISTAS



“Os brasileiros não aprenderam a pensar no coletivo, só pensam em si mesmos”. Antes que eu seja “apedrejado em praça pública”, pela audácia de expor tal afirmação, preciso ressaltar que neste post quero convidar você leitor a pensar sobre esta frase com muito carinho e especial atenção. De fato, é uma afirmação um tanto pretensiosa, mas que não pode ser em nenhum momento totalmente desprezada.


Faz parte do senso comum entre a comunidade científica, formadores de opinião, pensadores e etc..., que as sociedades que foram submetidas a grandes traumas, naturais ou não, como guerras e ou grandes desastres ou tragédias naturais, acabam sendo forjadas por esses eventos, e se tornam mais solidárias e efetivamente mais propícias ao pleno exercício do amor ao próximo mais genuíno, que perpassa necessariamente pela preocupação com o conjunto dos seres que compõem a sua comunidade, seja no âmbito do micro cosmos, como a família, o bairro, ou do macro cosmos, como o Estado ou o País. Dessa forma é nesse momento que podemos observar que a afirmação em questão neste post, tem o seu grau de relevância.


Façamos o seguinte exercício, vamos lembrar do enorme transtorno causado pela greve dos caminhoneiros ocorrida há poucos meses no Brasil. De uma maneira geral no início da greve, a grande maioria dos brasileiros era solidária a causa dos caminhoneiros, afinal suas reinvindicações eram muito justas e dessa forma apoiava o movimento incondicionalmente. Mas com o passar do tempo a opinião pública começou a repensar a sua posição acerca da questão, uma vez que começava a se tornar latente os efeitos e os transtornos que a greve estava causando na sua vida comezinha. Diante disso ficou ou não caracterizada a afirmação acima, pois muitas pessoas começaram a fazer estoques de comida, bebida, combustível, enfim tudo o que fosse possível estocar. E neste momento preciso fazer um parêntese, eu mesmo me peguei completando o tanque do carro, correndo atrás dos meus remédios de uso contínuo, nada mais justo, afinal preciso manter o meu diabetes sob controle, pois acima de tudo sou um indivíduo portador de uma doença crônica, mesmo tendo consciência de que existe um enorme contingente de pessoas país afora que sofre da mesma doença, ou seja, fazemos isso de forma inconsciente e automática, sem pensar se de alguma forma estamos prejudicando a coletividade, pois é fato que se todos fizerem seus estoques particulares, haverá falta de produtos no mercado, causando muito transtorno para todos, certo? O interessante é que só percebi que estava incorrendo neste erro quando estava saindo do posto com o tanque cheio ou quando já estava de posse de caixas extras de medicamento. Que “PORRA” é essa? Que espécie de pessoas somos nós? Somos um povo que não sabe o que é senso coletivo, e nesse instante é bom que seja dito que é bem diferente de ser solidário, pois isso o povo brasileiro comprovadamente sabe ser muito bem, “non é vero”.


Diante de tudo o que foi dito anteriormente neste breve post, poderíamos dizer que essa característica (dificuldade de pensar na coletividade), é inerente ao “ser humano” na sua mais simplória e sublime essência, ou como os sociólogos e demais “ólogos” de plantão diriam, depende também em grande parte do meio e do tempo em que ele vive. É bem verdade que se trata de um tema rico para discussão e reflexão. Mas o fato é que o ditado a seguir pode resumir enfaticamente o cerne desta resenha; “Farinha é pouca, meu pirão primeiro”.


Rodolfo S. Cerveira.