A sensação de pertencimento
é algo muito próprio do ser humano, faz parte de sua essência, mesmo que alguns
tentem negar essa digamos “verdade absoluta”, se é que podemos efetivamente
assim denominar. Ainda assim há uma série de conflitos e incongruências que precisam
ser devidamente equacionados no sentido de possibilitar uma convivência
relativamente harmônica entre os diversos “tipos de seres humanos”, que habitam
nesse nosso plano. E só para reforçar essa ideia e corroborando com a máxima
que diz que “ninguém é uma ilha’, o ser humano pode ser definido como um animal
essencialmente social, que necessita viver na companhia de seus pares.
O momento do ADEUS, da
partida, àquela hora em que você precisa dissociar-se da presença física de um
desses seres humanos, “UNO”, verdadeiramente especial, aquele que se fez
presente e relevante em sua vida, seja por suas ideias, seja por suas ações e
posturas ou ainda pela sua maneira singular de ver e viver a vida. Enfim a dor
de perder uma pessoa que tamanha representatividade tem e sempre terá na sua
agora ainda mais ingreme caminhada, é desalentadora, mas de fato é algo que
precisa ter o seu seguimento, seguir o seu curso, que por menos natural que
possa parecer, é aquilo que não só os outros, mas acima de tudo você, espera de
si mesmo.
Independente da religião, da
crença ou da filosofia que cada um de nós esta intimamente ligado, reaprender a
viver com a perda de alguém, com a ausência extremada, afinal não haverá uma
segunda chance, é um processo doloroso e traumático e que requer uma extrema dedicação
no sentido de nos readaptarmos ao universo do qual fazemos parte, refazendo
nossos passos e redimensionando nossas metas, reconstruindo a teia inicial
daquilo que nós temos de mais primitivo e genuíno.
De fato esse acontecimento
tem reflexos em todos as áreas da nossa vida, mas em especial a nossa saúde física
e psíquica é sem sombra de dúvidas, o ponto nevrálgico da questão. A forma como
corpo e mente respondem a esses súbitos ataques externos é surpreendente
sempre, sob todos os aspectos, ou seja, a forma como reagimos e nos
posicionamos em relação ao ADEUS é um fator preponderante para a manutenção e
ou preservação de nossa saúde em geral.
Como estamos falando de saúde,
o meu companheiro inseparável e indesejável, o diabetes, não poderia ficar de
fora, pois ele se faz sempre presente em todas as manifestações do meu corpo e
da minha mente, queira eu ou não, goste eu ou não. Logo a maneira como eu vou lidar
com o ADEUS também é um fator determinante da minha glicemia, que por sua vez é
determinante para o bom andamento da minha visão, para o mais apropriado crescimento
da minha próstata, enfim pra tudo quanto é “PORRA” nessa minha vida de
diabético.
Eu não poderia terminar esta
resenha sem fazer uma menção a “um breve
adeus” a um querido amigo que se foi há poucos meses, com apenas 50 anos, que
era diabético, que em função disso se fragilizou diante de outras doenças
oportunistas, que fez escolhas bem diversas das minhas, mas que acima de tudo sempre
respeitou as minhas escolhas, assim como eu respeitava as suas, o que acabou
por nos tornar dois bons amigos. Que sempre viveu intensamente e desregradamente,
sem nunca ter adotado nenhum cuidado ou restrição de qualquer natureza, em prol
da preservação de sua saúde, muito pelo contrário cometeu os maiores desatinos
alimentícios e comportamentais que se possa imaginar, principalmente quando
lembramos de sua condição (diabético), e que por tudo isso acabou pagando um preço
muito alto, nos deixando de forma tão prematura. Mas nunca durante toda a sua
existência, da qual tive o prazer de privar, deixou transparecer a ninguém
algum sentimento menor, seja de desrespeito aos seus pares, de falta de
empatia, de apreço a dogmas e conceitos muito discutíveis, de ideias preconceituosas.
Na realidade a mim parecia que a única lei a que ele se rendia era aquela que
prega um imenso amor a vida acima de tudo e de todos, o chamado viver bem a
vida, com a maior intensidade possível, não importando as consequências disso.
Fique em paz meu amigo!
Rodolfo S Cerveira
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