sexta-feira, 24 de maio de 2019

UM BREVE ADEUS



A sensação de pertencimento é algo muito próprio do ser humano, faz parte de sua essência, mesmo que alguns tentem negar essa digamos “verdade absoluta”, se é que podemos efetivamente assim denominar. Ainda assim há uma série de conflitos e incongruências que precisam ser devidamente equacionados no sentido de possibilitar uma convivência relativamente harmônica entre os diversos “tipos de seres humanos”, que habitam nesse nosso plano. E só para reforçar essa ideia e corroborando com a máxima que diz que “ninguém é uma ilha’, o ser humano pode ser definido como um animal essencialmente social, que necessita viver na companhia de seus pares.

O momento do ADEUS, da partida, àquela hora em que você precisa dissociar-se da presença física de um desses seres humanos, “UNO”, verdadeiramente especial, aquele que se fez presente e relevante em sua vida, seja por suas ideias, seja por suas ações e posturas ou ainda pela sua maneira singular de ver e viver a vida. Enfim a dor de perder uma pessoa que tamanha representatividade tem e sempre terá na sua agora ainda mais ingreme caminhada, é desalentadora, mas de fato é algo que precisa ter o seu seguimento, seguir o seu curso, que por menos natural que possa parecer, é aquilo que não só os outros, mas acima de tudo você, espera de si mesmo.

Independente da religião, da crença ou da filosofia que cada um de nós esta intimamente ligado, reaprender a viver com a perda de alguém, com a ausência extremada, afinal não haverá uma segunda chance, é um processo doloroso e traumático e que requer uma extrema dedicação no sentido de nos readaptarmos ao universo do qual fazemos parte, refazendo nossos passos e redimensionando nossas metas, reconstruindo a teia inicial daquilo que nós temos de mais primitivo e genuíno.

De fato esse acontecimento tem reflexos em todos as áreas da nossa vida, mas em especial a nossa saúde física e psíquica é sem sombra de dúvidas, o ponto nevrálgico da questão. A forma como corpo e mente respondem a esses súbitos ataques externos é surpreendente sempre, sob todos os aspectos, ou seja, a forma como reagimos e nos posicionamos em relação ao ADEUS é um fator preponderante para a manutenção e ou preservação de nossa saúde em geral.

Como estamos falando de saúde, o meu companheiro inseparável e indesejável, o diabetes, não poderia ficar de fora, pois ele se faz sempre presente em todas as manifestações do meu corpo e da minha mente, queira eu ou não, goste eu ou não. Logo a maneira como eu vou lidar com o ADEUS também é um fator determinante da minha glicemia, que por sua vez é determinante para o bom andamento da minha visão, para o mais apropriado crescimento da minha próstata, enfim pra tudo quanto é “PORRA” nessa minha vida de diabético.

Eu não poderia terminar esta resenha sem fazer uma menção a “um breve adeus” a um querido amigo que se foi há poucos meses, com apenas 50 anos, que era diabético, que em função disso se fragilizou diante de outras doenças oportunistas, que fez escolhas bem diversas das minhas, mas que acima de tudo sempre respeitou as minhas escolhas, assim como eu respeitava as suas, o que acabou por nos tornar dois bons amigos. Que sempre viveu intensamente e desregradamente, sem nunca ter adotado nenhum cuidado ou restrição de qualquer natureza, em prol da preservação de sua saúde, muito pelo contrário cometeu os maiores desatinos alimentícios e comportamentais que se possa imaginar, principalmente quando lembramos de sua condição (diabético), e que por tudo isso acabou pagando um preço muito alto, nos deixando de forma tão prematura. Mas nunca durante toda a sua existência, da qual tive o prazer de privar, deixou transparecer a ninguém algum sentimento menor, seja de desrespeito aos seus pares, de falta de empatia, de apreço a dogmas e conceitos muito discutíveis, de ideias preconceituosas. Na realidade a mim parecia que a única lei a que ele se rendia era aquela que prega um imenso amor a vida acima de tudo e de todos, o chamado viver bem a vida, com a maior intensidade possível, não importando as consequências disso. Fique em paz meu amigo!

Rodolfo S Cerveira

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