Feliz daquele que tem uma boa lembrança da “CASA DA VOVÓ”
e do vovô também, é bom que se diga. Porque será que muitas dessas expressões
foram “cunhadas” sempre na figura da mulher, será porque o nosso apelo materno
é sempre mais forte, mais próximo? Na verdade isso é o que menos importa, pois
o fato mais relevante é a extrema significação que a “Casa dos nossos avós”,
tem na vida de muitos de nós.
A magia dessa casa e principalmente da figura de seus
ocupantes, as histórias que nos foram contadas, as lições passadas, as
experiências e conselhos que nos foram carinhosamente transferidos, são parte
do legado mais importante do nosso arcabouço de vida que carregaremos por toda
a nossa breve passagem por aqui. É o precioso complemento e por que não dizer o
reforço de todo o manancial de ensinamentos que nossos pais nos passaram. É a
essência do que somos.
A longevidade própria dos nossos dias tem nos
possibilitado uma convivência um pouco mais densa e quantitativa com os nossos
queridos entes, mas nem sempre com uma qualidade satisfatória, pois na mesma
proporção a nossa correria, digo melhor a pressa com que levamos a vida, muitas
vezes nos leva para a antítese do que poderia ser a “qualidade total” em termos
de relacionamento. Portanto investir verdadeiramente no enriquecimento dessa
relação é primordial para melhorar o grau de crescimento dos “seres humanos”
que somos e principalmente dos que por ventura queiramos vir a nos tornar.
A herança genética que recebemos tem bastante relevância
na nossa formação, na nossa formatação como “seres ditos humanos”, na medida em
que carregamos uma série de genes e características próprias dos nossos
antecessores, estando eles mais próximos ou não na linha de antecessão. Neste
sentido não podemos deixar de mencionar as chamadas “heranças malditas”, que
independente da vontade, e com toda a certeza contra a vontade de todos, são
transmitidas de geração a geração. Estamos falando é claro, de um grande manancial
de moléstias e doenças de toda a ordem, que queríamos ou não nos afetam de
forma muito intensa e podem nos causar tamanho sofrimento. Por outro lado são
também traços e características muito particulares e próprios de cada árvore
genealógica, de cada família, assim sendo são também elementos importantes na configuração
dessa estrutura tão especial e única, e por conseguinte não podem ser
ignorados, jamais.
No meu caso específico, o “sinal de fogo” do diabetes
mais próximo era a minha não menos querida avó materna, que com certeza merece
sim um belo parêntese, afinal era uma pequena mulher se considerado o seu
minúsculo tamanho, seu porte físico, seu pé tamanho 33, mas por outro lado era uma
enorme, gigante mulher se observada a sua extrema determinação e força para
enfrentar e vencer os desafios que a vida lhe impôs, para viver em um Brasil
extremamente preconceituoso e machista de 70 anos atrás, criar quatro filhas,
sem um companheiro e sem um emprego fixo, uma mulher realmente admirável. Quisera
eu ter HERDADO dela, metade de sua força e capacidade de enfrentar os desafios
e agruras da vida.
De toda a sorte, o conhecimento e a perfeita integração
com essa parte da nossa vida, com a nossa história pregressa, é fundamental
para que possamos entender as nossas origens, de onde viemos, o que somos,
porque somos e para onde queremos e poderemos ir. Portanto não há como ignorar
esse imenso patrimônio afetivo que temos a nosso dispor e que nem sempre
fazemos um bom uso dele.
Rodolfo S Cerveira
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