Normalmente quando falamos de doenças crônicas, no caso
presente, do DIABETES, a primeira referência que temos é o controle da dieta,
então será que a afirmação tão comum no mundo moderno é verdadeiramente o
espelho da nossa condição humana, afinal realmente somos o que comemos, como
dizem os “entendidos”? Não deixa de ser parte da verdade, pois trata-se de algo
vital na nossa existência, mas com toda a certeza somos muito mais do que o que
comemos, não tenha dúvida. Nossa vida tem uma amplitude bem maior, logo a
manutenção do nosso BEM VIVER esta condicionada a muitos outros fatores mais
complexos e não menos importantes.
Em qualquer contexto de nossa existência, e
principalmente na vida de um doente crônico, o TRABALHO é um fator de extrema
importância no processo de manutenção de nossa saúde mental e do nosso corpo. Estar
bem com a nossa ocupação, gostar, ter paixão por ela e estar presente
verdadeiramente nela, são nossos objetivos precípuos. É em síntese aquilo que
nos faz continuar vivos e buscar sempre o nosso crescimento profissional. Todavia
as incertezas e medos do mundo corporativo, do mundo do trabalho, a
instabilidade da empresa, do Estado, do País e até mesmo do Mundo em que vivemos,
tão próprios dos nossos tempos, são fatores que em muito depreciam a qualidade
de vida de todos os trabalhadores. O que dizer então dos doentes ora objeto deste
breve relato, que assim como os demais integrantes desse universo, por conta de
uma procura incessante de um “lugar ao sol” que lhes proporcione uma vida
digna, acabam se distanciando das melhores condições de resistência ao imenso
arsenal de intempéries da vida moderna.
A história nos tem mostrado que as doenças e moléstias
originárias do exercício da atividade laboriosa, tem se modificado, se
adaptando as novas condicionantes, as novas tecnologias, as novas solicitações
do mercado. E de certa forma elas vem adquirindo novas facetas, modalidades,
com graus de comprometimento cada vez maiores. As doenças provocadas pelo
esforço repetitivo, pela postura imprópria durante a realização de uma tarefa, pelas
doenças mais comuns do momento como a ansiedade e a depressão, assim como
outras, para não me alongar demais nesse momento, que causam situações cada vez
mais complexas e que podem provocar um verdadeiro apagão na nossa vida profissional.
Preciso abrir um rápido parêntese, aos 40 anos quando a
descobri e efetivamente fui acometido pela crise aguda, de Hernia de Disco, não
só a minha atividade profissional como todas as demais sofreram profundas
mudanças em seu ritmo, forma e principalmente volume. Pra ser sincero ela
deixou marcas bem mais visíveis do que a própria diabetes, porém tenho plena
consciência de que não há como menosprezar a sua capacidade destrutiva.
Nesse instante você pode estar pensando, essas doenças
são próprias do mundo do trabalho e qual a sua relação com o doente crônico? Na
verdade elas devem ser objeto de cuidado e atenção para todos indistintamente,
porém no caso do diabético, costuma-se dizer que o “buraco é mais em baixo”,
pois a diabetes por si só já é um fator bastante complicador, já é um multiplicador
de problemas, pois ela consegue potencializar o mal causado por outras doenças.
Quando as taxas de glicemia estão controladas ela “fica quieta no seu canto”,
entretanto quando há algum incremento na mesma, ela se transforma e nesse caso pega
carona com as demais moléstias e as empurra cada vez mais para o abismo, o pior
de tudo é que vamos junto.
Desculpem a brincadeira, mas é que falar dessa MERDA toda,
sempre com seriedade, não dá. E depois o principal aspecto que quero frisar é o
seguinte, A princípio ela não causa nenhuma mudança visível na nossa capacidade
e na nossa força de trabalho, entretanto é primordial estarmos atentos a todos
os fatores que a rodeiam, pois a característica principal dessa doença é agir
de forma silenciosa, precisa e constante, minando as nossas defesas e
colaborando consistentemente com os ataques das demais moléstias oportunistas
que estejam no seu entorno. Fique ligado.
Rodolfo S Cerveira