Com a experiência adquirida
em anos de pretensas bem e mal sucedidas inciativas de perda e controle de peso
anteriores ao diagnóstico, eu já tinha plena consciência de que é absolutamente
impossível viver sob um regime severo de controle absoluto de hábitos
alimentares e atividades físicas indefinidamente, principalmente para mim que
fui gordo na pré-adolescência e como já disse em outro post desse blog, tenho a
cabeça de gordo, ou seja, penso em comida mesmo quando estou saciado e
necessariamente sem fome, pois o ato de comer e curtir o sabor do alimento é
verdadeiramente inebriante. A consequência disso é que com o passar do tempo há
um relaxamento natural, e não dá pra negar, bem gostoso, onde você se dá o
desfrute de comer um chocolate, tomar um refrigerante, comer um bolo, um doce, abusar
um pouco no arroz, no feijão, no macarrão, que mesmo de vez em quando vai te
fazendo um mal absurdo, mas como eu conseguia reverter a situação, digo melhor,
baixar a minha glicose rapidamente, a "SEM-VERGONHICE ALIMENTAR, ia avançando e
literalmente “me fudendo”.
Mesmo tendo em mente que
desde o primeiro momento o médico me alertou que tais atitudes poderiam levar a
danos irreparáveis, ou seja, o diabetes pode causar danos irreversíveis de toda
ordem além dos mais danosos e conhecidos, relativos a problemas de visão, perda
de órgãos amputados, problemas de desempenho sexual, que são os verdadeiros
traumas já consagrados na sabedoria popular. Mas o que posso dizer é que para
um bom comedor como eu, um verdadeiro glutão, há sempre uma dose de
questionamento acerca do que é mais relevante, os prazeres da carne, da vida ou
a melhor qualidade e ou quantidade de vida. Pode parecer um questionamento infrutífero,
sem nenhum sentido, em que a resposta parece óbvia, mas de fato é algo que
preexiste a nossa condição de seres pensantes.
O tempo foi passando e veio o
aumento da dosagem do GLIFAGE (de um para dois e de dois para três, até chegar
nos quatro comprimidos diários que passei a tomar desde a última ida ao
endocrinologista), a adição do JARDIANCE e por último a ASTORVASTATINA CÁLCICA, e não
tenho como contestar que minha capacidade de baixar a taxa de glicose foi
drasticamente diminuída. Basicamente isso transmite a seguinte mensagem, cada
vez que eu fizer alguma “merda”, leia-se sair da linha, do controle alimentar,
poderei acarretar um dano muito mais sério ao meu organismo, e o que é ainda
pior, poderá ser irreversível. Pois esse é em tese o desenvolvimento natural
dessa praga chamada diabetes.
Aproveitei a consulta para
fazer alguns questionamentos a minha médica, principalmente sobre a hipótese de
que se eu conseguisse engrenar na minha atividade física, perdesse o excesso de
peso e enfim fizesse uma dieta mais indicada a minha condição de doente crônico
- fato este que felizmente já comecei desde o dia 23 de maio último e que
espero manter indefinidamente - enfim se diante desse quadro eu poderia
diminuir e ou eliminar algum remédio que tomo diariamente. A resposta foi
desalentadora e devastadora para minha autoestima, e vou repassar na íntegra a
seguir; “mesmo que você se torne um atleta de altíssimo nível, atinja o peso
ideal, mantenha um controle alimentício 100% eficaz, ainda assim não seria
garantia de eliminar um ou mais remédios, pois iria depender enormemente da
reação do seu organismo a esse processo, e ainda afirmou que a hipótese mais
eficaz para que eu me livre do uso de remédios é uma cirurgia bariátrica para “CURAR” o diabetes, bastante utilizada e que tem apresentado
excelentes resultados, pelo menos no curto prazo, de cinco a dez anos”. Devo
admitir que a ideia de cirurgia não me agrada nenhum pouco, mas como diz o
ditado, “o futuro a Deus pertence”.
Rodolfo S Cerveira