O aparecimento de uma doença crônica na vida de uma
pessoa não representa só uma mudança na sua existência em especial, mas sim uma
significativa transformação no modo de viver da família dela como um todo,
afinal é algo que afetará a todos indistintamente. É um ledo engano achar que
você poderá circunscrever as providências e os cuidados à pessoa do doente,
pois mesmo a família rigorosamente não adoecendo junto com o mesmo, ela
forçosamente terá que arcar com o ônus do tratamento. E o quanto antes o doente
e os seus se conscientizarem dessa realidade, melhores serão as chances de
êxito nesse processo. E menores serão as sequelas advindas do mesmo.
Desde o primeiro momento que comecei a frequentar a casa
dos meus sogros, pude comprovar o quão maravilhoso era o PALADAR da casa, o
tradicional arroz com feijão e bife eram acima da média, obra dos dotes e
conhecimentos culinários da minha sogra. Mas o que eu não imaginava era que
esse paladar já estava extremamente restrito e confinado ao universo de uma culinária
bem mais leve, com menor teor de sal e gordura, pois na casa havia um doente
crônico, (meu sogro), na verdade um doente cardíaco que passara por uma
cirurgia de ponte de safena há mais de 10 anos. Ainda em constante estado de
recuperação e renovação da vida. Então eu me perguntava como teria sido antes
desse evento, que hábitos tão saborosos e ao mesmo tempo tão danosos a saúde de
todos foram forçosamente deixados para trás? Que consequências diretas esses hábitos
podem ter tido na configuração dessa doença? As transformações sentidas por
todos foram tão traumáticas assim? Enfim eu poderia fazer um verdadeiro rosário
de questões a respeito, mas o que verdadeiramente importa é que o engajamento
de todos no processo de recuperação foi e sempre será fundamental.
Isso tudo aconteceu a 34 anos atrás, época em que eu
tinha 19 anos, ainda atleta, com muito atividade física na minha rotina e sem
nenhuma doença aparente. É certo que também data desta época uma ligeira
desconfiança do meu cunhado (que é médico) e que sempre me questionava ao me
ver tomando bastante água, se eu não era diabético? A minha resposta era sempre
que eu ainda não estava ou era, mas que as luzes amarelas estavam sempre
acesas, pois minha avó materna era Diabética, e em função disso eu mantinha
alguns cuidados básicos, tais como a realização de exames periódicos.
Quando alguns anos depois essa hipótese se materializou e
eu me tornei um diabético, passei a experimentar a enorme transformação a que
foi submetido o meu lar, a minha casa, e a minha família. Não se trata somente
de restrições alimentares, se bem que, como diz o ditado, “nós somos o que
comemos”. A princípio, é fato que o controle alimentar é o mais radical, pois
uma série de coisas que antes eram consumidas sem nenhuma preocupação, o bolo,
o chocolate, a cocada, só para exemplificar, a partir desse momento passam a
ser criteriosamente escolhidos, de forma a reduzir a possibilidade da ingestão de
elementos danosos a saúde de todos, não só do doente crônico. O que num
primeiro momento pode parecer um exagero, privar os demais ocupantes da casa,
principalmente os mais jovens de desfrutar de tais delícias. Por outro lado,
como essa doença em especial, tem um alto grau de transferência por herança familiar, o cuidado com quem ainda não é, mas que
poderá vir a ser um doente em potencial no futuro nunca é demais, pelo
contrário é muito indicado e salutar.
Rodolfo S Cerveira
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