Alguém já vaticinou e muitas
outras pessoas acabaram se rendendo a afirmação de que uma das características
mais fortes e inerentes ao ser humano é o DESLUMBRAMENTO, é algo que faz parte
de sua ‘’formação primária, e que afeta a todos em menor
ou maior grau. Em síntese, é a incapacidade de se manter fiel as suas pretensas
raízes e convicções, sem se desvirtuar diante de fatos inesperados e alheios a
sua vontade, principalmente aqueles que aparentemente tem o poder de elevar o
seu posicionamento sócio econômico no seu grupo social primário e na sociedade.
Independente do pensamento
filosófico ou religioso que sirva de base para uma análise qualificada do
referido fenômeno, o fato é que, é muito provável que em algum momento de sua
vida o ser humano seja levado a experimentá-lo com menor ou maior intensidade,
e dependendo de sua capacidade de resiliência, poderá ou não sucumbir aos seus
efeitos nocivos e por consequência acabar se desprendendo de sua origem, de sua
essência. Contrariando a essa premissa, há quem diga que se esse fenômeno for
capaz de causar tamanha transformação na vida de alguém, é porque na verdade esse
indivíduo não tinha o caráter que se pressupunha inicialmente. Enfim é um bom
motivo para uma longa e provavelmente interminável discursão, e que não é o
objetivo deste post.
De certo que não se trata de
uma tarefa muito fácil, afinal as benesses que a vida material pode oferecer
são muito tentadoras e a ideologia dominante, que nos impinge o consumismo e a
posse a todo custo, nos conduzem a um terreno minado sem precedentes. Logo
resistir a esse arsenal de possibilidades é muito complicado, entretanto é algo
que precisa ser exercitado com bastante sabedoria, para que não corramos o
risco de perder o rumo, o norte. Isso tudo se torna ainda mais preocupante na
nossa sociedade tão estratificada e desigual, onde a diferença econômica e
cultural é abissal. E como a esmagadora maioria da população brasileira é de
indivíduos com pouca ou nenhuma educação formal e apesar de ter uma herança
cultural bastante significativa, não consegue absorver esse manancial de
informações, logo não tem como se beneficiar de forma satisfatória do mesmo.
Como não poderia deixar de
ser, os reflexos desse processo se espraiam por todas as áreas da vida do ser “humaninho”.
Ainda mais quando ele é um doente crônico, em especial, um diabético, pois suas
frustrações, desejos e aspirações quase sempre são canalizados para ações que
levam ao incremento do consumo de itens que tanto prejuízo podem trazer para a
manutenção e ou melhora de sua saúde. Para dar tons ainda mais dramáticos a
esse quadro, devemos considerar um outro aspecto que tanto contribui para a
escalada do processo de deslumbramento, que é a extrema necessidade que boa
parte das pessoas tem de alcançar os grupos sociais que estão em uma posição
superior na escala da estratificação social existente.
Tenho plena consciência de
que não sou imune ao mencionado processo, de fato acredito que ninguém é, mas apesar
de sempre me manter alerta para não agregar hábitos e costumes, decorrentes a
princípio da melhora da condição sócio econômica, que eventualmente poderiam
gerar algum tipo de deslumbramento. É bem verdade que alguma coisa acaba
passando por esse crivo, afinal assim como todos os seres humanos, sou um ser
imperfeito. Também é fato que fica mais fácil para as outras pessoas do que
para nós mesmos, identificar e até mesmo visualizar esse fenômeno, uma vez que
estamos diretamente envolvidos na situação. Por outro lado, o mais importante é
ter em mente que você continua sendo a mesma pessoa, de fato com uma
“quilometragem” e uma carga de vida bem maiores, mas no fundo ainda é o mesmo
ser que começou a jornada, e então, merece manter-se dentro de uma “linha reta”
de conduta, de vida. Afinal o deslumbramento em si mesmo não consegue agregar
nada de bom a sua existência, pelo contrário só causa dissabores e sofrimento.
Rodolfo S Cerveira
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