É interessante como a grande
maioria das pessoas se imagina e até mesmo se coloca acima e bem longe dos
problemas de acessibilidade, como se esses problemas não lhes dissessem
respeito, como se só os deficientes físicos, visuais, intelectuais e as pessoas
com dificuldade de locomoção fossem os “únicos” pretensos usuários de qualquer
equipamento que faça parte desse universo. Como se o mundo dessas pessoas fosse
um mundo paralelo, inteiramente diverso dos demais. O que muitas vezes é a
expressão da realidade atual que pode e precisa ser mudada, afinal todos nós
vivemos no mesmo mundo.
Num post anterior deste Blog
mencionei a importância de se quebrar esse paradigma e talvez não tenha
conseguido ser enfático o bastante, para demonstrar o quão isso é fundamental
para a melhoria das relações em comunidade. Todos nós precisamos de
acessibilidade, em algum momento de nossas vidas, nós poderemos estar em uma
situação em que necessitaremos em maior ou menor grau de mais acesso a alguma
coisa ou a algum espaço, para resolver um problema ou mesmo desenvolver uma
atividade própria do nosso dia a dia. Não somos verdadeiramente imunes nem
muito menos isentos dessa necessidade, só porque em princípio não somos
deficientes, e é essa falsa noção de blindagem que deve ser extinta, execrada.
Quantas são as situações em que nos sentimos impotentes, até deficientes
perante a alguns fatos da vida, e notem que não me refiro somente a eventos
altamente significativos, extraordinários, não, na verdade estou falando de
coisas banais que acontecem todos os dias e que nos causam um extremo
desconforto e que uma simples mudança de postura já provocaria um resultado
surpreendente, acreditem.
Quando pequenos, na primeira
idade, somos os reis da incapacidade, em suma somos verdadeiros “deficientes”, ou
seja, precisamos da ajuda e do apoio de outras pessoas para rigorosamente tudo,
A medida que vamos crescendo, o nosso nível de desenvolvimento pode ser medido
pela capacidade que cada um de nós tem de se libertar dessas amarras que a
nossa origem “humanoide” nos apregoou. Quando chegamos na idade adulta,
devidamente formados, assim espera-se, é claro, muitas vezes sofremos do maú da
AUTO SUFICIÊNCIA, afinal sabemos de tudo, não precisamos de nada, nem de
ninguém. Desculpem o exagero, mas via de regra essa é uma citação bem realista,
infelizmente. Quanto mais nos aproximamos da nossa plenitude, quanto mais
conhecimento vamos absorvendo, quanto mais grosso fica o nosso “coro”, melhores
são as chances de despertarmos para uma série de questões fundamentais de nossa
existência, do nosso habitat.
Hoje a ciência e o senso
crítico comum vislumbram a importância das questões relativas a acessibilidade,
não se trata só de um simples modismo, de possibilidades mercadológicas para
comercialização de novos produtos e equipamentos, para atender as solicitações
do “ser politicamente correto”, “tão brilhantemente” exercido pelos senhores
governantes e autoridades afins e também por alguns dirigentes de ONG, mas de uma
genuína preocupação da sociedade em atender as necessidades de um enorme grupo
de pessoas. De fato, esse engajamento ainda é muito pequeno, limitado basicamente
ao 3º Setor, a umas tímidas e ineficientes ações estatais (limitadas a
formulação de leis, sem nenhuma preocupação real de fiscalizar a sua
aplicação), e ainda alguns poucos técnicos abnegados que abraçaram a causa, e
fazem um trabalho admirável em prol da mesma. Logo é preciso promover a universalização
desse conhecimento sobre o tema para que os demais atores da sociedade passem a
ter uma atuação mais participativa no desenrolar desse processo, de forma a
provocar um efeito multiplicador no público em geral, e assim essa parcela tão
significativa da sociedade possa verdadeiramente assumir o seu papel de
protagonista nesta “quizomba”.
Em resumo acredito ser
fundamental que as pessoas comecem a entender que todos nós, sem nenhuma
exceção, somos suscetíveis a dificuldades relativas a acessibilidade, e dessa
forma não se trata simplesmente de dar uma melhor condição aos deficientes de
uma maneira geral e sim de tornar esse lugar que ocupamos, um espaço mais
civilizado, preparado para atender as diversidades humanas e em sintonia com as
inúmeras novas solicitações que a evolução ou a “involução”
nos traz a cada dia.
Rodolfo S Cerveira
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