sábado, 6 de janeiro de 2018

ACESSIBILIDADE PARA QUEM?


É interessante como a grande maioria das pessoas se imagina e até mesmo se coloca acima e bem longe dos problemas de acessibilidade, como se esses problemas não lhes dissessem respeito, como se só os deficientes físicos, visuais, intelectuais e as pessoas com dificuldade de locomoção fossem os “únicos” pretensos usuários de qualquer equipamento que faça parte desse universo. Como se o mundo dessas pessoas fosse um mundo paralelo, inteiramente diverso dos demais. O que muitas vezes é a expressão da realidade atual que pode e precisa ser mudada, afinal todos nós vivemos no mesmo mundo.

Num post anterior deste Blog mencionei a importância de se quebrar esse paradigma e talvez não tenha conseguido ser enfático o bastante, para demonstrar o quão isso é fundamental para a melhoria das relações em comunidade. Todos nós precisamos de acessibilidade, em algum momento de nossas vidas, nós poderemos estar em uma situação em que necessitaremos em maior ou menor grau de mais acesso a alguma coisa ou a algum espaço, para resolver um problema ou mesmo desenvolver uma atividade própria do nosso dia a dia. Não somos verdadeiramente imunes nem muito menos isentos dessa necessidade, só porque em princípio não somos deficientes, e é essa falsa noção de blindagem que deve ser extinta, execrada. Quantas são as situações em que nos sentimos impotentes, até deficientes perante a alguns fatos da vida, e notem que não me refiro somente a eventos altamente significativos, extraordinários, não, na verdade estou falando de coisas banais que acontecem todos os dias e que nos causam um extremo desconforto e que uma simples mudança de postura já provocaria um resultado surpreendente, acreditem.

Quando pequenos, na primeira idade, somos os reis da incapacidade, em suma somos verdadeiros “deficientes”, ou seja, precisamos da ajuda e do apoio de outras pessoas para rigorosamente tudo, A medida que vamos crescendo, o nosso nível de desenvolvimento pode ser medido pela capacidade que cada um de nós tem de se libertar dessas amarras que a nossa origem “humanoide” nos apregoou. Quando chegamos na idade adulta, devidamente formados, assim espera-se, é claro, muitas vezes sofremos do maú da AUTO SUFICIÊNCIA, afinal sabemos de tudo, não precisamos de nada, nem de ninguém. Desculpem o exagero, mas via de regra essa é uma citação bem realista, infelizmente. Quanto mais nos aproximamos da nossa plenitude, quanto mais conhecimento vamos absorvendo, quanto mais grosso fica o nosso “coro”, melhores são as chances de despertarmos para uma série de questões fundamentais de nossa existência, do nosso habitat.

Hoje a ciência e o senso crítico comum vislumbram a importância das questões relativas a acessibilidade, não se trata só de um simples modismo, de possibilidades mercadológicas para comercialização de novos produtos e equipamentos, para atender as solicitações do “ser politicamente correto”, “tão brilhantemente” exercido pelos senhores governantes e autoridades afins e também por alguns dirigentes de ONG, mas de uma genuína preocupação da sociedade em atender as necessidades de um enorme grupo de pessoas. De fato, esse engajamento ainda é muito pequeno, limitado basicamente ao 3º Setor, a umas tímidas e ineficientes ações estatais (limitadas a formulação de leis, sem nenhuma preocupação real de fiscalizar a sua aplicação), e ainda alguns poucos técnicos abnegados que abraçaram a causa, e fazem um trabalho admirável em prol da mesma. Logo é preciso promover a universalização desse conhecimento sobre o tema para que os demais atores da sociedade passem a ter uma atuação mais participativa no desenrolar desse processo, de forma a provocar um efeito multiplicador no público em geral, e assim essa parcela tão significativa da sociedade possa verdadeiramente assumir o seu papel de protagonista nesta “quizomba”.

Em resumo acredito ser fundamental que as pessoas comecem a entender que todos nós, sem nenhuma exceção, somos suscetíveis a dificuldades relativas a acessibilidade, e dessa forma não se trata simplesmente de dar uma melhor condição aos deficientes de uma maneira geral e sim de tornar esse lugar que ocupamos, um espaço mais civilizado, preparado para atender as diversidades humanas e em sintonia com as inúmeras novas solicitações que a evolução ou a “involução” nos traz a cada dia.


Rodolfo S Cerveira

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