Muito se fala da magia da
época do Natal, o clima muda, surge uma nova e melhor atmosfera, as pessoas
ficam mais propensas a olhar para si mesmas e para as outras com um olhar um
pouco menos observador e crítico. “Que o amor esta no ar”, enfim são inúmeras
afirmações e frases de efeito que tentam ilustrar o que realmente acontece
neste período tão especial do ano. Acredito que independente da religião e do
credo de cada um, é sim uma época mágica, carregada de significados maiores
capazes de promover uma pequena pausa do espectro de “insanidade” em que o
mundo se transformou no resto do ano. Para os mais céticos talvez seja um
exagero a utilização do termo MAGIA, e de certo que não estou aqui para
fomentar discussão alguma acerca do assunto.
Peço permissão para fazer um
breve parêntese, pois na condição de um filho do Estado do Pará, onde para boa
parte dos que ali nasceram e vivem, o verdadeiro Natal acontece por ocasião da
realização do Círio de Nazaré, sempre no segundo domingo de outubro, onde as
pessoas se transformam e a cidade fica diferente, há realmente uma atmosfera de
festa e congregação em torno de uma força espiritual muito grande, que
transcende a todas as teorias cientificas conhecidas existentes. A cidade fica
cheia de visitantes provindos de todas as partes do Estado, do País e do mundo.
“Tudo em Belém tem em suas entranhas a Aura do Círio”, mesmo as coisas que não
estão diretamente relacionadas a fé, como por exemplo o calendário do comércio
paraense que é extremamente influenciado pelo mesmo, pois desde os meses de
julho e agosto as empresas começam a atender a demanda por produtos e serviços “pré
e pró” Círio, ou seja, o paraense em especial, tem uma preocupação específica
de se vestir melhor para a festa, de arrumar a casa para o Círio de Nazaré e
consequentemente ela já fica pronta para receber o Natal, em dezembro. É sabido
que existe um lado profano da grande manifestação de fé, mas que em nenhum
momento ou sob nenhum aspecto consegue ofuscar a grandiosidade e a significação
da festa religiosa. E o dia da procissão do Círio de Nazaré propriamente dito é
o verdadeiro domingo de Natal da maioria dos paraenses.
Fazendo uma breve analogia com
o famoso e bem-aventurado domingão, aquele dia da reunião da família, da congregação
familiar em torno da mesa, dia de realimentar e reforçar os mais profundos
laços que temos, pois sem sombra de dúvida, é a família o primeiro e mais
importante núcleo da sociedade, ou mesmo da humanidade, então porque não
podemos considerar e fazer do domingo um dia ainda mais mágico, “um dia de
Natal”, porque não. Afinal ele reúne todas as características que podem torna-lo
um dia verdadeiramente especial. Já que o amor, o companheirismo e a
solidariedade normalmente estão bastante latentes e dessa forma precisão ser exercitados
em sua plenitude.
Com o advento do diabetes, o
meu natal perdeu algum glamour, na verdade perdeu alguns sabores especiais,
pois minha casa sempre foi regada a muita comida boa e doces maravilhosos, afinal
é a casa de uma excelente cozinheira e isso, como diz um personagem televisivo
conhecido, “já não me pertence mais”. Devo confessar que ainda assim acabo
extrapolando um pouco, por vezes muito, mas no frigir dos ovos esse “pseudo
exagero” ainda é bem menor que outrora, e convenhamos que fica difícil resistir
às inúmeras guloseimas próprias da época, como por exemplo ao bolo de nada
(denominação carinhosamente dirigida ao bolo sem recheio – uma delícia, que
fazia parte de quase todos os meus sábados anteriores ao diabetes), vale dizer
que neste caso específico em que o mesmo é alusivo a uma data tão significativa
ele recebe o recheio de passas, ao pãozinho da Tia Neli (uma maravilha regada a
chocolate), as empadas de queijo e de carne, hum!, aos biscoitos de castanha,
tudo devidamente produzido in loco. Me reservo ainda o
direito de fazer “pouco caso” dos panetones da vida, aos quais não tenho nenhum
apreço, mas também se fazem presentes, já que as outras pessoas gostam.
De fato, fico travando uma
guerra de foice com a oferta de tanta coisa gostosa. Por outro lado, nem só de
comida se faz o Natal, afirmação óbvia e verdadeira, que na prática não é tão
simples de comprovar, pois lembrando algumas antigas máximas da humanidade
como: “o homem é o que come”; “podemos conhecer um povo pela sua mesa”; “ a
história da humanidade pode ser contada pela forma como cada povo se
alimentava”, só para exemplificar, verdadeiramente somos muito mais que
estomago e cabeça, afinal a vontade de comer começa na cabeça. Brincadeiras à
parte, a magia do natal vai muito além de sua encantadora gastronomia, logo é
plenamente possível e altamente recomendável que o ser “humaninho” diabético,
deleite-se com as suas oferendas sem entretanto, nenhum ou quase nenhum
prejuízo a sua saúde, mantendo a sua dignidade e o seu bem viver. Não é fácil,
mas é preciso.
Um ótimo natal a todos
Rodolfo S Cerveira