domingo, 18 de março de 2018

CUIDADO COM O DESLUMBRAMENTO.



Alguém já vaticinou e muitas outras pessoas acabaram se rendendo a afirmação de que uma das características mais fortes e inerentes ao ser humano é o DESLUMBRAMENTO, é algo que faz parte de sua ‘’formação primária, e que afeta a todos em menor ou maior grau. Em síntese, é a incapacidade de se manter fiel as suas pretensas raízes e convicções, sem se desvirtuar diante de fatos inesperados e alheios a sua vontade, principalmente aqueles que aparentemente tem o poder de elevar o seu posicionamento sócio econômico no seu grupo social primário e na sociedade.

Independente do pensamento filosófico ou religioso que sirva de base para uma análise qualificada do referido fenômeno, o fato é que, é muito provável que em algum momento de sua vida o ser humano seja levado a experimentá-lo com menor ou maior intensidade, e dependendo de sua capacidade de resiliência, poderá ou não sucumbir aos seus efeitos nocivos e por consequência acabar se desprendendo de sua origem, de sua essência. Contrariando a essa premissa, há quem diga que se esse fenômeno for capaz de causar tamanha transformação na vida de alguém, é porque na verdade esse indivíduo não tinha o caráter que se pressupunha inicialmente. Enfim é um bom motivo para uma longa e provavelmente interminável discursão, e que não é o objetivo deste post.

De certo que não se trata de uma tarefa muito fácil, afinal as benesses que a vida material pode oferecer são muito tentadoras e a ideologia dominante, que nos impinge o consumismo e a posse a todo custo, nos conduzem a um terreno minado sem precedentes. Logo resistir a esse arsenal de possibilidades é muito complicado, entretanto é algo que precisa ser exercitado com bastante sabedoria, para que não corramos o risco de perder o rumo, o norte. Isso tudo se torna ainda mais preocupante na nossa sociedade tão estratificada e desigual, onde a diferença econômica e cultural é abissal. E como a esmagadora maioria da população brasileira é de indivíduos com pouca ou nenhuma educação formal e apesar de ter uma herança cultural bastante significativa, não consegue absorver esse manancial de informações, logo não tem como se beneficiar de forma satisfatória do mesmo.

Como não poderia deixar de ser, os reflexos desse processo se espraiam por todas as áreas da vida do ser “humaninho”. Ainda mais quando ele é um doente crônico, em especial, um diabético, pois suas frustrações, desejos e aspirações quase sempre são canalizados para ações que levam ao incremento do consumo de itens que tanto prejuízo podem trazer para a manutenção e ou melhora de sua saúde. Para dar tons ainda mais dramáticos a esse quadro, devemos considerar um outro aspecto que tanto contribui para a escalada do processo de deslumbramento, que é a extrema necessidade que boa parte das pessoas tem de alcançar os grupos sociais que estão em uma posição superior na escala da estratificação social existente.

Tenho plena consciência de que não sou imune ao mencionado processo, de fato acredito que ninguém é, mas apesar de sempre me manter alerta para não agregar hábitos e costumes, decorrentes a princípio da melhora da condição sócio econômica, que eventualmente poderiam gerar algum tipo de deslumbramento. É bem verdade que alguma coisa acaba passando por esse crivo, afinal assim como todos os seres humanos, sou um ser imperfeito. Também é fato que fica mais fácil para as outras pessoas do que para nós mesmos, identificar e até mesmo visualizar esse fenômeno, uma vez que estamos diretamente envolvidos na situação. Por outro lado, o mais importante é ter em mente que você continua sendo a mesma pessoa, de fato com uma “quilometragem” e uma carga de vida bem maiores, mas no fundo ainda é o mesmo ser que começou a jornada, e então, merece manter-se dentro de uma “linha reta” de conduta, de vida. Afinal o deslumbramento em si mesmo não consegue agregar nada de bom a sua existência, pelo contrário só causa dissabores e sofrimento.

Rodolfo S Cerveira